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ARTIGOS

Miguel Salaberry Filho
Presidente do SECEFERGS e Secretário Nacional de Relações Institucionais da União Geral dos Trabalhadores (UGT)


“O Internacional é grande, mas foi pequeno ao optar pela demissão de uma centena de empregados”


22/04/2021

Em meio ao maior colapso de saúde pública e hospitalar da história do Brasil, o futebol brasileiro vem cumprindo rigoroso calendário diante do pior momento da pandemia no Brasil. A gravidade da situação, no entanto, não tem sensibilizado os dirigentes dos clubes a perceber que o momento requer prudência quando o que está em questão são os empregos e a responsabilidade social das organizações esportivas. É nesse contexto que a diretoria do Sport Club Internacional resolve dispensar empregados do clube, em desacordo com a necessidade de preservar postos de trabalho. Inter demitiu mais de cem empregados. Em maio de 2020, após a eclosão da pandemia, o clube anunciou o corte em um só dia de 44 postos. No dia 16/04, nova leva de dispensados veio a público, numa lista integrada por 63 trabalhadores.

Agremiação tradicional do futebol brasileiro, o S.C. Internacional é detentor de três títulos do Campeonato Brasileiro, bicampeão da Copa Libertadores da América e duas vezes campeão mundial de futebol, grandeza que torna incompreensível a demissão sumária dos empregados sem considerar a gravidade e o ineditismo da situação.

A diretoria do Sindicato dos Empregados em Clubes e Federações Esportivas do Rio Grande do Sul (Secefergs) chegou a propor providências que preservassem os empregos, por meio de medidas como a redução de jornada de trabalho e de salários, no modelo apresentado pelo governo federal através da Medida Provisória 936/2020.

INCUMBÊNCIA BUROCRÁTICA

Entretanto, ao transferir a responsabilidade sobre o assunto para o CEO (em inglês, Chief Executive Officer) do clube, Giovane Zanardo, o presidente Alessandro Barcellos desconsiderou o fato de uma empresa nos moldes tradicionais atuar de modo diferente do funcionamento de um clube esportivo. A visão desse diretor executivo está voltada para questões racionais e operacionais da estrutura, sem levar em conta aspectos sociais e humanos.

Um bom exemplo é a demissão de uma empregada com 39 anos de casa, que perdeu o marido recentemente, e que dificilmente encontrará outro emprego, devido à idade e à dificuldade criada pela retração econômica provocada pela pandemia. Ela é mais uma funcionária que ganha pouco, em termos salariais, em contradição com a justificativa alegada pelo Inter de cortar despesas.

O CEO talvez não se dê conta de que, antes dos atletas entrarem em campo envergando a jaqueta colorada, há um grupo de profissionais que lhes dão suporte. São porteiros, cortadores de grama, bilheteiros, massagistas, fisioterapeutas, nutricionistas e funcionários da área administrativa, que atuam diuturnamente para o bom funcionamento da engrenagem esportiva propriamente dita.

PREVENÇÃO CONTRA A COVID-19  

O Inter também ignorou a necessidade da realização de exames demissionais,incluindo de RT-PCR, para detectar se há casos de infectados pelo novo coronavírus. Uma das vítimas da Covid-19 no clube foi Edson Prates, falecido em 20 de março, e que trabalhava há 51 anos na agremiação, desempenhando a função de Gerente Administrativo de Futebol.

Para ser uma empresa diferenciada o Internacional não precisa recorrer à medidas paliativas e inoportunas, como demitir no trintídeo (30 dias anteriores à data-base – 1º de maio) ou a opção pelo pagamento de multa referente ao salário nominal de cada trabalhador dispensado.

A decisão da Justiça do Trabalho, através do despacho da juíza Valdete Souto Severo, determinando a suspensão das 63 demissões de funcionários do clube, demonstra que o S.C. Internacional ainda não compreendeu que uma instituição consagrada zela pelo bem-estar social de seus empregados, que fazem parte do patrimônio humano do clube.




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