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Comunidades latino-americanas pedem direito ao voto e igualdade nos serviços públicos na Praça Kantuta


12/04/2016

Com a participação de cerca de 2000 pessoas, neste domingo (10/4), aconteceu a quarta edição do “Cidadão Imigrante” na Praça Kantuta, zona norte de São Paulo.

Organizado pelo Instituto de Culturas e Justiça da América Latina e do Caribe (ICUJAL), entidade filiada a União Geral dos Trabalhadores (UGT), o evento, que iniciou em 2013 acontecia anteriormente na Avenida Celso Garcia, no Brás. Nesta edição, que foi a segunda realizada na Feira Andina da Praça Kantuta, um dos maiores pontos de concentração de migrantes bolivianos na cidade de São Paulo, foi reivindicado para a comunidade migrante o direito ao voto e cidadania.

 

Rene César Barrientos, presidente do ICUJAL afirma que o objetivo principal do “Cidadão Imigrante”  é dar visibilidade aos migrantes e refugiados que residem no Brasil e difundir entre eles a importância do direito à cidadania.  “ Nós moramos no Brasil, pagamos impostos  e isso se traduz como cidadania. No entanto, cidadania só existe com o direito ao voto, e lamentavelmente imigrantes ainda não têm direito ao voto, somos cidadãos incompletos”  defende Barrientos.

 

Ele também relembrou que o evento surgiu após a comunidade boliviana participar da Marcha dos Imigrantes e perceber que eram necessárias múltiplas atividades, além daquela para incentivar a comunidade a lutar pelos seus direitos, pela cidadania, qualidade na educação pública, saúde e transporte. “Precisamos que o Brasil volte seu olhar às manifestações culturais da América Latina. Às vezes parece como se o Brasil não se identificasse com os países vizinhos. É urgente a construção de políticas públicas sob o olhar latino e não sob o olhar ocidental” desabafa e comenta que nas próximas edições o evento vai procurar fortalecer parcerias com os Governos Federal, Estadual e Municipal.

 

O Cidadão Migrante iniciou ao meio-dia e contou com apresentações artísticas de 11 grupos latino-americanos entre eles: Celina Castro (El Salvador), Tinkus (Bolívia), Grupo Kantuta (Bolívia), Los Legendarios (Peru), Cumbia com Caramberos (Colômbia) entre outros.

 

Com seu slogan “canta e encanta” e quinze anos de carreira artística dos mais diversos ritmos latinos, Celina Castro, migrante do El Salvador conquistou o público da Kantuta. “Fico feliz de contribuir com o evento, vi pessoas que participaram pela primeira vez e estão mais conectados com a cultura latina. É só olhar as barracas. Tem comida, roupa, produtos de todos os países” comenta Celina.

 

A cantora acredita que todos são iguais aos olhos de Deus, porém não tem certeza que aconteça o mesmo na lei brasileira. Ela reforça a importância do voto e da livre expressão do migrante na politica e comenta que o migrante e o refugiado lidam dia a dia com preconceito, falta de oportunidades. “Inclusive o transporte público torna-se uma dificuldade. Eu gostaria de trabalhar além da vida artística, mas aí surge uma vaga na Zona Sul enquanto você mora na Zona Norte e só em deslocamento o dia está perdido. Tem imigrantes que não têm oportunidades, passam por humilhações, nem tudo mundo é respeitado” desabafa.

 

A artista explica a influência de festividades como o Cidadão Migrante na difusão da cultura latino-americana entre o público brasileiro “Ver uma mulher brasileira dançar comigo no palco hoje foi maravilhoso. Brasileiro gosta de coisas diferentes e está começando a se interessar pelas outras culturas que residem no país”.

 

Durante o evento a comunidade migrante recebeu atendimento de saúde gratuito. Medição da pressão arterial, teste de glicemia, oficinas de massagem cardíaca e até atendimento dental foram alguns dos serviços prestados ao publico.

 

Em parceria com o ”Cidadão Imigrante” a Cruz Vermelha do Estado de São Paulo atendeu cerca de 700 pessoas, na sua maioria mulheres que apresentaram como principal problema a glicemia alterada.

 

A Instituição afirmou que a parceria com o evento é importante porque permite a proximidade dos imigrantes com o atendimento à saúde e caso estes apresentem problemas graves podem ser orientados a tempo de procurar os hospitais.

 

Sandy C. Molina, migrante boliviana, qualifica como ótima a iniciativa para que o atendimento à saúde seja realizado em eventos da Praça Kantuta onde bolivianos e estrangeiros não são discriminados. “Sofremos muito preconceito até na hora de frequentar postos de saúde. Pelo menos aqui os bolivianos se sentem mais confiantes em falar e passar pelo atendimento”, afirma.

 

Organizador do evento, Rene Barrientos lembra que além da saúde existe preconceito na educação pública das Redes Municipal e Estadual e afirma que é preciso que professores recebam uma bagagem multicultural para lutar contra a intolerância.

 

Direito ao voto, Direito à cidadania

 

Das 12h às 18h30, uma barraca com panfletos e orientadores apresentava ao público migrante o significado do direito à cidadania.  Atualmente, existe um projeto (PL 2516/15,) em tramitação na Câmara dos Deputados, de relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB), para modificar o estatuto da migração. No entanto, iniciativas para conceder o voto aos imigrantes precisam ser tratadas ao nível constitucional.

 

“Meu trabalho hoje é levar ao imigrante uma nova visão do mundo. Muitos deles não sabem o significado de cidadania ou não se interessam em ter consciência politica, mas precisamos explicar a eles que, se moram no Brasil, então tem direito ao voto” explica um dos orientadores, Robson Castro. Para ele, projetos como a nova lei de Migração são viáveis, mas é imprescindível que o poder público e a mídia se manifestem sobre esta realidade ainda deficiente.

 

A organização do evento faz menção ao país vizinho Argentina onde apesar de existir mais preconceito, os estrangeiros têm direito ao voto. Uma aparente prova da política brasileira conservadora.

 

Para o brasileiro e jornalista, Eduardo Athayde, que participou do evento, imigrantes devem votar se tiverem condição legal ou visto permanente. “Imigrante participa da vida do país, paga impostos, o que é feito para os brasileiros também interfere na vida deles, então considero que direito ao voto é uma ótima iniciativa”, qualifica Athayde.

Ele elogiou o evento “Cidadão Imigrante” por ser uma forma de conectar o público com as culturas originarias. Porém criticou o trabalho do Poder Público pela falta de limpeza na localidade “Eu acho que é desrespeito com os imigrantes a falta de cuidado e limpeza na Praça Kantuta e nas ruas em volta”, comenta o jornalista.

O evento finalizou às 18h30, com a apresentação da dança típica “Saya boliviana”. Entre os parceiros deste ano estavam UGT, o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, a FeComerciarios , a Sorridents, a Cruz Vermelha e as Secretarias de Cultura e Desenvolvimento do Estado de São Paulo.

 

Rene Cesar Barrientos afirmou que estas parcerias fortaleceram a atividade pela influência em todo o Brasil. O organizador lembrou a Marcha contra o trabalho escravo da Zara, no ano 2013, que contou com o apoio da UGT. “Eu sozinho não conseguiria fazer muita coisa, a UGT tem bandeiras para o trabalhador brasileiro e também para o trabalhador imigrante e isso nos ajuda muito nas nossas lutas” afirma Barrientos.

 

Por Katherine Rivas




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