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Mais afetados pela crise, jovens deixam aluguel e voltam a morar com os pais


19/01/2017

 

Júlia Melo tem 24 anos e é estudante. Marília Muller tem 28 e é professora de filosofia. Já Rosana Brandão, 30 anos, é engenheira civil. Elas moram em Estados diferentes e nem se conhecem. Mas têm uma história em comum: as três tiveram de abrir mão do apartamento alugado e voltar para a casa dos pais diante da crise econômica.

 

O número de imóveis alugados caiu pela primeira vez no ano de 2015, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgados no fim de 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda de 2,04% entre 2014 e 2015 interrompe uma sequência de crescimento no volume de casas alugadas entre 2004, início da série histórica, e 2014. Nesse período, o Brasil registrou um aumento de 54,6% no total de imóveis alugados.

 

“Essa queda pode ser em função da aquisição de novas moradias, mas pode ser também porque pessoas entregaram as casas em que viviam de aluguel para morar com outras, como os pais, por exemplo, que têm casa própria”, sugeriu a gerente da Pnad, Maria Lúcia Vieira.

 

Vendas de imóveis em baixa

 

Os números do mercado imobiliário indicam que as vendas estão em baixa e reforçam a segunda opção apontada pela pesquisadora do IBGE.

Dados da Comissão da Indústria Imobiliária, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CII/CBIC), mostram que venda de imóveis residenciais novos caiu 7% entre janeiro e setembro de 2015 em relação ao mesmo período anterior. Em 2014, a retração nas vendas havia sido ainda maior: 28% na comparação com 2013.

Entre 2014 e 2015, também caiu o número de novas contratações de financiamento habitacional. De acordo com a Caixa Econômica Federal, a queda foi de 6,4%. Já o número de liquidação de contratos caiu 8,32% no mesmo período.

 

Volta para casa

 

Para especialistas no setor imobiliário, a hipótese mais provável é que quem deixou o aluguel tenha passado a morar com quem tem casa própria.

“Pessoas desempregadas ou com redução de renda optam por devolver ou não renovar seus aluguéis para voltar para a casa dos pais ou dividir uma moradia com mais pessoas”, destacou o presidente do portal ZAP, Eduardo Schaeffer.

 

“Tem muita gente entregando chave de imóvel para ir morar com os pais, com familiares. No Rio de Janeiro, a gente tem um recorde de entrega de imóveis de aluguel, principalmente depois das Olimpíadas”, afirmou o vice-presidente do Sindicato da Habitação no Rio (Secovi Rio), Leonardo Schneider.

 

Schneider enfatizou que, devido à recessão econômica no país, há “baixa confiança da população de se comprometer com contratos, mesmo que de aluguel, que geralmente têm prazo mínimo de 30 meses, o que é um período longo para um momento de incertezas”.

 

Medo do desemprego

 

A engenheira civil Rosana Gouveia Brandão, 30 anos, temia ficar desempregada e abriu mão do seu apartamento para voltar a morar com a família na Zona Norte do Rio em maio do ano passado. Por três anos ela dividiu apartamento com uma amiga na Zona Sul, mais perto do trabalho.

 

Ao perceber o cenário de crise e identificar que havia possibilidade de ser demitida da construtora na qual trabalhava, Rosana voltou para a casa da mãe. Foi demitida dois meses depois. Conseguiu trabalho temporário no fim do ano, mas começou 2017 desempregada.

 

Voltar a morar de aluguel está fora dos planos de Rosana. “Estou fazendo uma certa reserva, por não saber como vai ser o futuro. De repente, poderei até tentar comprar um imóvel para fugir do aluguel, que está com preço absurdo”, destacou.

 

Jovens são os mais afetados

 

Os dados do IBGE mostram que a população jovem é a que mais tem sofrido os impactos da recessão econômica. “Os jovens foram e continuam sendo as principais vítimas da crise. Eles estão perdendo muita renda. Nos últimos 12 meses, a perda para a faixa etária de 20 a 29 anos foi de 16%”, afirmou o economista e diretor da FGV Social, Marcelo Neri.

 

O pesquisador destacou ainda que o desemprego, que atingiu no ano passado as maiores taxas desde 2012, afeta com mais peso a população mais jovem do país. Segundo os dados da PNAD Contínua, enquanto a taxa geral de desocupação no país foi de 11,8% no 3º trimestre de 2016, entre os jovens de 18 a 24 anos ela chegou a 25,7%.

 

Por conta deste cenário, Marcelo Neri também aponta a volta dos jovens para a casa dos pais como uma das hipóteses mais prováveis para explicar a queda do volume de casas alugadas. "Porque eles [os jovens] são os grandes perdedores nos últimos anos", enfatizou.

 

O economista Marcelo Neri ponderou que o aluguel é "um luxo" no Brasil. "O pobre mora em casa própria - mesmo que precária, sem registro legal de posse e com pouco acesso a serviços básicos, mas própria. Quem pode morar em imóvel alugado é quem tem renda."

 

Sem emprego e renda

 

Foi quando perdeu seu emprego que a professora de filosofia Marília Muller decidiu deixar Florianópolis e voltar para a casa da mãe, em Santa Cruz do Sul, interior do Rio Grande do Sul. Havia oito anos que ela morava de aluguel longe da família. Mesmo dividindo a casa com outras pessoas, o gasto com moradia comprometia cerca de 40% do seu orçamento mensal.

 

“Voltei a morar com minha mãe porque fiquei sem emprego. Sem dúvida, vivo melhor agora. Consigo viajar mais e trabalhar menos”, disse Marília. Questionada se pretende voltar para o aluguel, ela diz que, por hora, não. "Caso tenha que me mudar por conta de trabalho, será inevitável [voltar para o aluguel]", disse.

 

 

A conta da casa também ficou apertada para a estudante Júlia Melo, de 24 anos, que decidiu deixar a cidade de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, para voltar a morar com os pais em Cataguases, na Zona da Mata mineira. Comprometendo quase 60% de sua renda com os gastos de moradia, a estudante percebeu que não conseguia manter seus custos com o emprego que tinha no Rio. Pediu demissão, saiu do aluguel e foi para a casa dos pais.

 

“O custo de vida é muito alto no Rio de Janeiro e a busca por um novo emprego estava muito difícil. Eu estava em um emprego que não ajudava muito nos meus custos. Então, decidi voltar a morar com minha mãe”, contou Júlia, que segue desempregada, mas ajudando sua mãe nos negócios da família, que tem comércio no interior de Minas.

 

Júlia destaca que, mesmo ficando desempregada, sair do aluguel lhe permitiu investir em desejos antigos, sempre adiados por conta do aperto financeiro. “Eu consegui fazer uma viagem que há muito tempo queria fazer. Fui para a Alemanha. Agora, eu estou tirando carteira de motorista, outra coisa que não podia pagar por causa do gasto com aluguel”, destacou.

 

Fonte: G1

 


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