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Automação pode afetar emprego de metade dos trabalhadores do país


20/08/2019

Automatização de setores como call centers afeta empregos.

O paulista Robinson de Jesus Martins, de 40 anos, trabalhou, por sete anos, num call center que fazia o atendimento de uma empresa aérea e de um grande banco. Ele conta que cada “ilha de atendimento” tinha mais de 400 pessoas. Martins chegou ao cargo de coordenador, mas acabou perdendo o emprego após todos os processos da empresa terem sido automatizados.

 Um estudo de pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, mostra que muitos outros brasileiros vão correr o risco de perder o emprego para a tecnologia, o que desafia o país a preparar melhor seus trabalhadores para desenvolver habilidades que as máquinas não têm.

A pesquisa estima que 44,5 milhões de profissionais dos setores formal e informal, ou 53% da força de trabalho do país, estão em ocupações com 70% de chance ou mais de serem automatizadas nas próximas décadas com o uso de técnicas já existentes ou tecnologias em desenvolvimento com grande probabilidade de serem viabilizadas, como é o caso de carros autônomos. Entre as categorias com maior risco de automação estão motoristas (98% de chance), auxiliares de escritório (97%), vendedores de lojas (95%) e caixas (90%). O estudo analisou os efeitos em 373 ocupações no país.

Método aplicado ao Brasil

Com o título de “O Brasil Precisa se Preparar para a Era da Inteligência Artificial?”, o trabalho foi realizado pelo economista brasileiro João Moraes Abreu e pela cientista em computação russa Katya Klinova para uma dissertação de mestrado no curso de Administração Pública e Desenvolvimento Internacional da Harvard Kennedy School of Government. Uma das orientadoras foi Carmen Reinhart, única mulher no atual ranking dos 12 economistas mais citados em trabalhos acadêmicos nos EUA.

A base da pesquisa sobre o Brasil foi um trabalho anterior feito por dois pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em que especialistas em inteligência artificial identificaram ocupações nos EUA para as quais já existe tecnologia para executá-las de forma automática e também as que provavelmente serão “automatizáveis”. A partir desse trabalho, os pesquisadores de Harvard buscaram as atividades equivalentes no mercado brasileiro. Além de apontar as profissões mais ameaçadas pela tecnologia, o estudo sobre o Brasil concluiu que homens correm mais riscos que mulheres e que os trabalhadores que ganham menos estão nas posições mais vulneráveis.

 — Embora faça algum sentido que ocupações com salários menores sejam mais fáceis de automatizar, isso não é sempre verdade. Avanços recentes em telemedicina sugerem que atividades que até há pouco exigiam elevado conhecimento médico podem ser executadas por máquinas. O dado sobre o Brasil nos surpreendeu — diz Klinova.

Robinson Martins perdeu o emprego no setor de call center onde trabalhava depois que tudo foi automatizado. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Os pesquisadores ressaltam que, ainda que as previsões sobre o desenvolvimento de tecnologias de automação se mostrem verdadeiras, isso não significa que todas serão adotadas. Vai depender da viabilidade econômica do investimento parar trocar humanos por máquinas. Mas, principalmente na eventualidade de profissões que empregam pessoas de baixa renda serem mais afetadas, o provável efeito do avanço de tecnologias como a inteligência artificial será o aumento da desigualdade social. Isso exigirá uma resposta de políticas públicas, como mais investimento em educação.

— Para desenvolver habilidades que as máquinas não podem desempenhar é preciso ter acesso a um bom sistema educacional e a ambientes familiares estáveis. Quem não tiver isso tem probabilidade alta de ficar para trás — alerta Abreu.

Menos agência, mais app

De certa forma, o futuro já chegou em muitos setores. No de telemarketing, que já foi um grande empregador, é crescente o uso de assistentes virtuais de voz e softwares que permitem interações entre clientes e máquinas por mensagens de texto. No bancário, a automação fecha cada vez mais vagas. Segundo dados do Caged, cadastro do Ministério do Trabalho que contabiliza admissões e demissões, foram fechadas 60 mil vagas no setor nos últimos sete anos. Eram 513 mil empregados em instituições financeiras em 2012 e hoje são cerca de 450 mil.

— Bancos e teles são responsáveis por mais de 40% das contratações de empresas de telemarketing. E são eles que mais estão automatizando o atendimento — diz Marco Aurélio Coelho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing (Sintratel).

Para o economista Gustavo Cavarzan, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que estuda o impacto das tecnologias no mercado de trabalho das instituições financeiras, trata-se de uma queda considerável num prazo curto. Ele observa que, no mesmo período, as operações bancárias digitais avançaram:

— Em 2008, 18% do total de transações bancárias eram feitos na agência. Hoje, são apenas 5%. O celular, que respondia por 1% das operações em 2012, já concentrava 40% no ano passado.

Por outro lado, ressalta Cavarzan, o avanço da tecnologia cria novas posições em setores em transformação como o bancário, ainda que não na mesma proporção da redução dos postos de trabalho tradicionais. Uma dessas novas funções é a de cientista de dados, um profissional capaz de administrar o enorme volume de informações que hoje a tecnologia permite acumular numa atividade como a bancária.

— Um grande banco tinha 33 cientistas de dados em 2017. Hoje tem 250 — diz Cavarzan.

Tecnologia também cria oportunidades

Se a automação está fechando vagas em diversos setores, novas oportunidades de emprego trazidas pelas inovações vão se abrir, inclusive na indústria. Pelo menos 30 novas profissões em oito áreas devem surgir nos próximos cinco ou dez anos, com o avanço da chamada Indústria 4.0, como tem sido chamada a revolução provocada pela tecnologia nos sistemas produtivos. A estimativa é de um estudo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

No setor automotivo, por exemplo, a previsão é de mais vagas para mecânicos de veículos híbridos ou técnicos em informática veicular. Na construção civil, gestores de logística de canteiro de obras ou técnicos de automação predial terão mais chances de emprego. Também devem surgir profissionais como designer de tecidos avançados, no ramo têxtil, e, no ramo de tecnologia, mais espaço para especialistas em big data, a gestão de dados. Outras profissões que devem se transformar estão em setores como petróleo e gás, química e petroquímica e máquinas e ferramentas.

Na Gupy, empresa de recrutamento baseada em inteligência artificial de São Paulo, a tecnologia, em vez de demitir, tem gerado empregos. Criada em 2015, a empresa tinha 30 funcionários no início de 2018. Hoje, são 100, metade deles da área de tecnologia.

Usando algoritmos, que são programas de computação, os cerca de 1 milhão de currículos na base de dados da empresa podem ser ranqueados em 33 minutos. Se o mesmo processo tivesse que ser feito manualmente por uma pessoa, seriam necessárias 21 mil horas de trabalho. Com a tecnologia, a empresa alcança alta produtividade, um dos principais problemas da economia brasileira, sem dispensar especialistas de carne e osso.

— Nosso trabalho não substituiu totalmente a mão humana. Fazemos uma pré-seleção que depois precisa ser analisada por pessoas que trabalham no setor de recursos humanos — diz Guilherme Dias, um dos sócios da Gupy.

A Indústria 4.0 integra o mundo físico e virtual por meio de tecnologias digitais. O grande desafio no Brasil, concordam os estudiosos do assunto, será qualificar e requalificar as pessoas para essas novas funções, o que inclui a melhoria do ensino e programas de atualização para profissionais que já saíram da escola ou da universidade.

— A tecnologia vai destruir muitos empregos, mas também vai gerar novos. Um levantamento do Fórum Econômico Mundial mostrou que serão 133 milhões novos empregos no mundo nos próximos cinco anos. Mas será preciso um esforço para preparar as pessoas para preencher essas vagas, incluindo o Brasil — disse Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai.

Fonte: O Globo




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