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Mulheres, estudantes e sindicatos adaptam protestos em reação a ato endossado por Bolsonaro


28/02/2020

Manifestações de oposição que já estavam marcadas para março ganharão tom de resposta ao dia 15

 

Atos de rua que já vinham sendo organizados por grupos de mulheres, organizações estudantis e centrais sindicais para o mês de março foram ampliados para incorporar uma resposta à manifestação que mira o Congresso endossada pelo presidente Jair Bolsonaro.

 

Líderes dos atos de oposição ao governo se mobilizaram nas últimas horas para discutir a reação à convocação dos bolsonaristas, agendada para o próximo dia 15. Na terça-feira (25), Bolsonaro estimulou a iniciativa de seus apoiadores ao encaminhar a amigos um vídeo em apoio ao protesto. 

 

Três grandes atos vinham sendo preparados por opositores para março: um no dia 8, por ocasião do Dia Internacional da Mulher; outro no dia 14, quando se completam dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL); e outro no dia 18, em defesa da educação.

 

Os eventos, que são propagados por meio de redes sociais e devem ocorrer em vários estados, são organizados por movimentos feministas, por entidades sindicais e pela UNE (União Nacional dos Estudantes), com o apoio de partidos de esquerda como PSOL, PT e PC do B.

 

Porta-vozes confirmaram à Folha que os motes iniciais ganharão agora a companhia de bandeiras como a defesa da ordem democrática e da Constituição, em contraposição a pautas autoritárias levantadas por parte dos grupos apoiadores do ato do dia 15 —como fechamento do Congresso e pedido de intervenção militar.

 

"A pauta das liberdades democráticas é parte das demandas do ato e seguramente será levantada com toda a força", diz Erika Andreassy, uma das articuladoras do protesto Mulheres contra Bolsonaro, marcado para o dia 8 na avenida Paulista, em São Paulo.

 

Segundo Erika, que faz parte do Movimento Mulheres em Luta, a notícia de que Bolsonaro ajudou a divulgar a mobilização dos seus seguidores foi repudiada pelas organizações que convocam marchas em prol da mulher em todo o país.

 

Os detalhes sobre a inclusão do tema serão decididos até a próxima semana. A ideia é buscar um contraponto assertivo. Na origem, o ato já mirava nominalmente o presidente por considerar que o governo promove corte de direitos e sinaliza ameaça à democracia.

 

A descrição do evento no Facebook destaca o lema: "Por nossas vidas, democracia e direitos! Justiça para Marielle, Claudias e Dandaras!", em referência a mulheres que protagonizaram casos célebres de violência.

 

"Em um momento em que o governo faz esse tipo de ameaça autoritária, esse tema se coloca como prioritário para nós", acrescenta a advogada Carla Vitória, militante da Marcha Mundial das Mulheres, lembrando que a defesa da democracia vem aparecendo nos atos anuais da data.

 

Nesta quinta-feira (27), representantes de dez centrais sindicais se reuniram em São Paulo e decidiram que todas as atividades em defesa de trabalhadores marcadas para março serão ampliadas com a reação ao ato reverberado por Bolsonaro.

 

O foco inicial era fazer uma série de paralisações e protestos, especialmente na área da educação pública, no dia 18. Organizações como CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores) e CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular Conlutas) estão à frente da mobilização.

 

"O momento político é delicado, pois a convocatória para uma manifestação contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal se soma a outros episódios de ataque à nossa democracia por parte do presidente da República e seu grupo político", afirmaram as centrais, em nota.

 

Segundo Atnágoras Lopes, da secretaria executiva da CSP-Conlutas, "diante do claro risco às liberdades democráticas, houve a decisão conjunta de incorporar as ameaças mais recentes ao chamado do dia 18, que também busca a valorização do serviço público".

 

"Os que convocam esses atos [pró-governo] têm por trás a defesa do viés de um regime ditatorial", segue ele. De acordo com Lopes, a orientação é fortalecer também as mobilizações dos dias 8 e 14.

 

No encontro desta quinta, as centrais se comprometeram ainda, conforme registrado em comunicado, a "potencializar esses movimentos em todo o país por meio de suas bases sindicais", unindo "todas as forças sociais na defesa das instituições e do Estado democrático de Direito".

 

"O dia 18 vai ser um contraponto ao dia 15", diz Guilherme Boulos (PSOL), coordenador da Frente Povo Sem Medo e do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

 

"O dia 18, além dos temas de educação, servidor público, direitos e emprego, após o discurso antidemocrático que Bolsonaro impôs, com ataques à imprensa e a movimentos sociais, vamos chamar com o mote de 'ditadura nunca mais'", completa Boulos. 

 

"Bolsonaro ultrapassou todos os limites. É preciso aumentar o tom da reação e da resistência nas ruas", afirma ele. A Frente Povo Sem Medo e o MTST também endossam os atos dos dias 8 e 14. 

 

A UNE, que já puxava os protestos do dia 18 em defesa do ensino público, também incluirá críticas ao ato convocado por bolsonaristas. Nas redes sociais, a entidade passou a explorar o assunto na quarta-feira (26), com frases como: "Bolsonaro, respeite a democracia!".

 

"O ato do dia 18 começou como uma construção dos movimentos estudantis e ganhou a adesão dos servidores públicos. Agora passa a ser também uma resposta a essa iniciativa antidemocrática, que fala em fechamento do Congresso e do Supremo", diz o presidente da UNE, Iago Montalvão.

 

As críticas ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, continuarão sendo o mote central do protesto, mas dividirão espaço com o novo tema. "Não vamos abrir mão da pauta da educação, afinal é um dos ministérios com o maior número de problemas e críticas", afirma Montalvão.

 

Em 2019, as políticas de educação do governo provocaram três ondas de manifestações Brasil afora, a partir de março.

 

Na internet, a UNE conclamou seguidores a não "naturalizar os ataques à democracia" e escreveu que "não é de hoje que o presidente Bolsonaro flerta com o período de exceção". As postagens foram acompanhadas da expressão 

Partidos de oposição reforçaram a necessidade de resposta. O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, afirmou nesta quinta, em uma rede social, que 18 de março será o "Dia Nacional de Mobilização contra Bolsonaro" e assumiu a defesa de impeachment do presidente.

 

"Suas inclinações golpistas são indisfarçáveis. É hora de mostrar que não aceitaremos esse absurdo. A saída é a rua!", escreveu.

 

O PT, que, como revelou a Folha, vê motivo para impeachment, mas evita por ora fazer a defesa pública da medida, divulgou nota favorável às manifestações contra Bolsonaro. O partido incentivou filiados e apoiadores a se somar aos atos dos opositores.

 

O ato pró-governo previsto para o dia 15 está sendo convocado por movimentos de rua que fermentaram os protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e depois aderiram ao bolsonarismo. O principal meio de divulgação são plataformas digitais como o WhatsApp.

 

Os grupos negam defender pautas autoritárias, como fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal). Em suas páginas nas redes sociais, porém, as discussões avançam e incluem as duas demandas, além da defesa de um novo AI-5, ato que iniciou o período mais repressivo da ditadura militar.

 

Fonte: Folha de SP




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