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Rodovia da morte, Régis é duplicada após décadas de atrasos e tragédias


15/12/2017

É recorrente um sonho no qual Márcia Miranda, 51, se vê presa num ônibus de viagem que acabou de ser atingido de frente por um caminhão. Desesperada, ela grita até ser acordada pelo marido. As imagens não são criação da mente da empresária, mas terríveis lembranças.

 

No sonho, ela revive o acidente em que perdeu a mãe, em 1993, na Régis Bittencourt, estrada que liga São Paulo a Curitiba. Em apenas uma tarde, 33 pessoas morreram naquela que já era conhecida como a rodovia da morte.

 

Na semana que vem, mais de 50 anos após a inauguração da rodovia, a duplicação de todo o seu trecho deve ser concluída. Com a entrega dos últimos 10 km, na serra do Cafezal, a Régis tenta se afastar da trágica fama. De 2009 a 2016, o número de mortes na estrada passou de 172 para 88, redução de 48%. Neste ano, até novembro, foram 76. No trecho da serra do Cafezal, a redução no mesmo período foi de 15 para 8 mortes.

 

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, ao menos nos trechos paulistas, a Régis tem índice de mortes por km de estrada menor do que as outras duas rodovias federais que partem da capital de SP (Fernão Dias e Dutra, essa última com quase o dobro do índice de mortes em relação à Régis).

 

Para Nelson Bussolan, superintendente da rodovia concedida à Arteris, o apelido fúnebre da estrada já ficou para trás, mas ele admite que o fim das pistas simples mudará a experiência na via.

 

"Hoje ainda temos o risco de colisões frontais. Com a duplicação, eliminamos esse problema e diminuímos a chance de colisão traseira, já que o trânsito deverá se organizar melhor", afirmou.

 

Até o Natal, as novas pistas na serra deverão ser abertas, com três novos túneis e viadutos, câmeras com sensores de movimento, alto-falante para orientação de motoristas em casos de emergência e assistência telefônica ao usuário.

 

No novo trecho, o limite de velocidade será de 60 km/h -os radares de fiscalização já estão em funcionamento.

 

"ESTRATÉGICA"

 

Em 1961, em sua última semana como presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek inaugurou a estrada que seria a principal ligação entre as regiões Sul e Sudeste do país.

Ainda chamada de BR-2, a Régis foi celebrada como uma "uma das expressões máximas da engenharia nacional".

 

O entusiasmo durou cerca de uma década, quando o alto fluxo de caminhões, trânsito e acidentes evidenciou que a estrada já estava saturada.

 

No início dos anos 70, o governo licitou um projeto de readequação. Entre os concorrentes estava o escritório do engenheiro Celso Bottura, que havia acabado de entregar com outras empreiteiras o arrojado projeto da Imigrantes, que liga São Paulo ao litoral.

 

O projeto foi preterido pelo governo federal. Segundo Botura, foi considerado "muito paulista", por ter muita "invencionice". O governo acabou contratando um pacote com diversas obras locais.

 

As intervenções não conseguiram frear os acidentes. No fim da década de 80, a Régis recebeu da imprensa paulista o apelido de "rodovia da morte", alcunha até então da Dutra (que liga São Paulo ao Rio).

 

Ficaram cada vez mais frequentes as manifestações de moradores que interrompiam o tráfego pedindo mais segurança e a duplicação da via.

 

Em 1993, na serra do Cafezal, um ônibus bateu de frente em um caminhão que invadiu a pista contrária -32 pessoas morreram, incluindo a mãe de Márcia. Duas ambulâncias que trabalhavam no resgate também bateram e um dos motoristas morreu.

 

No mesmo ano, em outra colisão frontal, 44 pessoas morreram perto de Curitiba. "Teve que acontecer tanta tragédia para entregarem a duplicação. E uma delas levou a minha mãe", diz Márcia.

 

NOVO FÔLEGO

 

Em 2007, o projeto de duplicar a rodovia ganhou novo fôlego quando o governo Lula (PT) incluiu o trecho de Curitiba a São Paulo na segunda etapa do programa de concessões de rodovias federais.

 

A promessa, à época, era entregar as obras até 2013, mas, como os trabalhos só começaram em 2010, o prazo ficou apertado, diz a Arteris.

 

Os atrasos, segundo a concessionária, se deram pela demora da aprovação ambiental das obras que passam na mata atlântica. Entre as compensações estavam o plantio de mudas de árvores, orquídeas e bromélias.

A liberação ambiental para intervenção no trecho central da serra só veio em 2013. O prazo de entrega passou a ser fevereiro de 2015. As obras também atrasaram e foram sendo entregues aos poucos.

 

Nos 30 km de serra, segundo a concessionária, foram investidos R$ 1,3 bi na duplicação. A última fase a ser entregue são 10 km (não contínuos) entre túneis e viadutos que deverão ser entregues antes do Natal. Os túneis já têm sistemas de detecção de fogo, telefonia de emergência, câmeras e radares de velocidade.

 

A concessionária espera o aumento de 10% no fluxo no trecho da serra, por onde circulam 20 mil veículos por dia. A estimativa é que o caminho passe a ser interessante também para o motorista que tem como destino o litoral sul paulista. "Com pista simples, a situação da Régis é tão precária que agora qualquer melhora na estrutura surte um efeito grande", avalia Bottura. 

 

Fonte: Folha de SP


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