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UGT Press 524: Na era da Pós-verdade


04/10/2016

NA ERA DA “PÓS-VERDADE": a "pós-verdade" não é o que vem após a verdade, como um choque em decorrência de conhecê-la ou o espanto como consequência de seu impacto. A nova expressão "pós-verdade" aplica-se no campo político à prática habitual da mentira, à sua aceitação pacífica e dócil por parte dos eleitores. Esse é um fenômeno mundial que caracteriza a atual crise da democracia, no esgotamento das funções dos partidos políticos e na inutilidade de suas ideologias e programas. No universo político, hoje um mundo à parte, alheio à realidade cotidiana, se pratica um estilo de atuação que ignora a verdade e admite como norma a mentira. Nos meios de comunicação essas mentiras se propagam como rastilho de pólvora, a velocidades impressionantes porque replicadas por meios menores. Quase um século depois, a frase de Joseph Goebbels, violento ministro da propaganda de Adolf Hitler, começa a fazer sentido: "Uma mentira repetida muitas vezes transforma-se numa verdade".É assim que age Donald Trump nos Estados Unidos e os candidatos a prefeito de Esperantina no Piauí (aqui como exemplo aleatório das cidades brasileiras). Os meios ou os seguidores cuidam de reproduzir exaustivamente suas descaradas mentiras, seja por ignorância, por interesse ou por irresponsável extravagância.

 

ESTADOS UNIDOS: no grande país do Norte, tido como uma das democracias mais estáveis e sólidas do mundo, o candidato do Partido Republicano, Donald Trump, um mega-empresário, antes mais conhecido por seus investimentos e pelas indiscrições de suas ex-esposas, saiu candidato a presidência da República praticamente sem chances. Agora, próximo das eleições de novembro, ele chega à reta final com possibilidades de vitória. Está praticamente empatado com Hillary Clynton, nada menos do que a esposa de um ex-presidente, ex-secretária de Estado, mulher experiente e apoiada pelo atual presidente. Trump foi beneficiado pelo exercício da política como espetáculo, pela ávida curiosidade e exposição na imprensa americana, que o transformou num animal raro, capaz das mais excêntricas propostas e das mais descaradas mentiras. Ele chegou a dizer que o presidente Barack Obama fez uso de uma certidão de nascimento falsa, além de ter sido o fundador do Estado Islâmico. Como promessa de campanha, disse que vai construir um muro de milhares de quilômetros na fronteira entre México e Estados Unidos. A revista "The Economist", afirmou: "O descaramento do bilionário não é punido, sendo tomado como prova de que o eleitor está diante de alguém que não abaixa a cabeça para as elites no poder" (Estadão, 13/09). Aqui também entre nós as mentiras dos candidatos a prefeito nas cidades brasileiras passarão ao largo das preocupações dos eleitores ou da Justiça Eleitoral.

 

BRASIL: o marketing político, tal como é praticado no Brasil, é recente e buscou inspiração exatamente nos Estados Unidos. Aqui evoluiu para um desfile de mentiras bem elaboradas. Com exceções, vencem as eleições aqueles candidatos que têm programas eleitorais melhor apresentados e tecnicamente construídos por hábeis publicitários. Enfim, em tese, ganha quem gasta mais e contrata os melhores marqueteiros. Em outras palavras, estamos craques no uso da "pós-verdade" ou da mentira pura e simples. Mas, a pergunta que se faz é: como se defender das "pós-verdades" ou mentiras eleitorais? A rigor, seria de se acreditar que as democracias mais sólidas teriam mecanismos para se protegerem desse caos eleitoral, mas os Estados Unidos estão desmentindo essa assertiva. No Brasil, as leis existem para serem descumpridas. Há leis e até boas. Por exemplo: cumpre-se a Lei da Ficha Limpa? A condenação em duas instâncias vai prevalecer? As ações de natureza eleitoral serão julgadas antes das eleições? A impunidade vai acabar? O que estamos fazendo a respeito disso tudo? As centrais sindicais poderiam ajudar?

 

INGLATERRA: na Inglaterra, o plebiscito para decidir ou não a permanência na União Europeia foi cheio de mentiras. The Economist: "Na Grã-Bretanha, um dos argumentos utilizados pela campanha que venceu o referendo de junho foi o de que, se não aprovassem a saída da União Europeia (UE), os britânicos seriam invadidos por uma horda de imigrantes, já que a Turquia estaria prestes a ingressar no bloco. São os sentimentos, não os fatos, que importam nesse tipo de discurso" (Estadão 13/09). Houve outros exemplos que fizeram triunfar a xenofobia. Contudo, a análise mais consequente refere-se ao papel da imprensa nesses episódios. Não há mais veículo desinteressado. A grande imprensa, em todos os países democráticos, faz parte de grandes conglomerados econômicos, com políticas editoriais liberais, de compromisso com certas linhas ideológicas e políticas, ajudando a formar uma espécie de pensamento único e influenciando a opinião pública em todo o mundo. São poucas as agências de notícias, todas pertencentes a países hegemônicos. As pequenas agências ou agências alternativas não têm qualquer chance de influência no mundo globalizado.

 

MÍDIAS SOCIAIS: as chamadas mídias sociais aceitam de tudo, sem nenhum filtro ou responsabilidade. As pessoas apenas reforçam suas crenças originais e desprezam as opiniões que agridem os seus sentimentos. Nesse novo mundo de relacionamentos e livre circulação de ideias, provavelmente, a verdade é a última das preocupações ou não é a preocupação principal. Algo que, além de lamentável, mostra a tendência das pessoas a acompanharem a onda e postarem-se despreocupadas diante das mentiras ou "pós-verdades". O que representa (ou representará no futuro) as mídias sociais, considerando-as como evolução nas comunicações e um ingrediente de modernidade imprescindível, não sabemos. Vamos esperar aperfeiçoamentos, especialmente no que se refere à ética e ao comportamento das pessoas: precisam ser diferentes e exemplares no futuro próximo, de forma que os cidadãos possam influenciar seus líderes. São os cidadãos que devem influenciar os seus líderes. 

 




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