27/05/2025
Por: Fabiano Polayna (MTB: 48.458/SP)
Uma nova moda que mistura consumo e fantasia está gerando polêmica e críticas em vários setores da sociedade: a onda dos bebês reborns. Esses bonecos ultrarrealistas, feitos artesanalmente e vendidos por valores que ultrapassam milhares de reais, têm sido tratados por alguns adultos como filhos de verdade. Para muitos, essa prática extrapola o limite da brincadeira e gera um descompasso com a vida real — principalmente quando invade espaços e direitos destinados às crianças reais.
No SIEMACO-SP, vídeos que circulam nas redes sociais, mostrando pessoas levando bonecos reborns para consultas médicas, filas de prioridade e até berçários, foram exibidos para trabalhadores da categoria. A intenção era entender como eles percebem essa situação.
“Isso não pode acontecer. Tem fila de prioridade para mãe e pai de verdade, não para quem carrega um boneco de luxo”, disse Marta Lopes Nascimento da Silva, ajudante de serviços gerais na LOCAT-SP. Ela destacou a desigualdade que essa prática evidencia. “Tem criança passando fome e sem moradia, e tem adulto gastando uma fortuna com boneco que nem respira.”
Para José Vagner da Silva, coletor na empresa LOGA, o modismo esconde um consumismo que pesa no bolso das famílias. “Esses bonecos são caros demais e tem gente que se endivida só pra agradar filho ou pra mostrar pros outros. A gente tem que ter consciência, saber dizer não e pensar no que é prioridade de verdade. Criança de verdade precisa de alimento, de escola, de carinho. Não é boneco que precisa de fila preferencial”, afirmou.
A psicóloga Valéria Campinas explicou que, em si, brincar com bonecos não é um problema — desde que não haja confusão entre a fantasia e a realidade. “Assim como homens adultos podem se divertir com videogames, as mulheres ou qualquer pessoa podem brincar com bonecos. Mas a humanização dos reborns — quando se começa a ver o boneco como um filho real — pode indicar uma tentativa de preencher a solidão ou a falta de afeto”, explicou. Ela destacou que não se trata, automaticamente, de um transtorno, mas que há um limite claro. “Não podemos classificar como doença só porque a pessoa gosta do boneco. Mas quando a pessoa acredita que o boneco tem vida ou passa a exigir para ele direitos reservados às crianças reais, é preciso cuidado e atenção.”
Valéria também alertou sobre o papel dos profissionais de saúde nesses casos. “Quando alguém tenta levar um boneco reborn para um médico, os profissionais precisam ter sensibilidade e saber conduzir a situação. É importante acolher a pessoa, entender o contexto e, se necessário, avaliar se existe algum quadro de saúde mental que precise de atenção”, concluiu.
Para o SIEMACO-SP o debate mostra que não se trata apenas de um brinquedo bonito e caro: é sobre prioridades e sobre a necessidade de manter os pés no chão. A humanização de bonecos não deve ser romantizada ou normalizada — porque, enquanto isso acontece, crianças de verdade continuam a enfrentar a fome, o abandono e a falta de oportunidades que nenhum boneco de luxo jamais vai conseguir preencher. Bonecos podem até parecer reais, mas a vida — e a dignidade das pessoas reais — sempre deve estar em primeiro lugar.
UGT - União Geral dos Trabalhadores