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Cacau Show | Uma doce fachada que esconde abusos, exploração e práticas inaceitáveis


02/06/2025

A Cacau Show é uma das marcas mais conhecidas do Brasil. Com milhares de lojas espalhadas pelo país, propagandas constantes em horários nobres e uma imagem de empresa moderna e acolhedora, ela conseguiu se firmar como sinônimo de chocolate acessível e presenteável. Mas, por trás da vitrine colorida e das mensagens motivacionais, existe uma realidade amarga que precisa ser exposta.


A empresa, comandada pelo fundador e CEO Alexandre Costa, alcançou um faturamento bilionário nos últimos anos. Apenas em 2023, a marca ultrapassou os R$ 5 bilhões em receita. Em 2024, a expansão continua com promessas de abertura de novas unidades e aumento de produção. Esse crescimento acelerado, no entanto, tem sido acompanhado de denúncias graves de abusos, práticas de controle excessivo, violação de direitos humanos e exploração na cadeia produtiva.



O que antes era vendido como um “sonho de empreendedorismo” está se revelando um verdadeiro pesadelo para muitos trabalhadores e franqueados. Matérias publicadas por grandes veículos de imprensa e relatos de quem vive essa realidade mostram que a empresa tem adotado práticas que ultrapassam os limites da ética empresarial. O ambiente dentro da rede é descrito como coercitivo, com imposições ideológicas, punições e métodos de gestão que beiram o fanatismo.



Funcionários da sede relataram a realização de rituais com elementos de forte carga simbólica, nos quais são forçados a participar de encenações e encarar os próprios medos como parte de “exercícios de liderança”. Tudo isso sob a supervisão direta do CEO. Relatos apontam que os participantes são pressionados psicologicamente em reuniões com discursos inflamados, onde quem questiona ou se recusa a participar dos rituais é isolado ou afastado.



Franqueados da rede também têm denunciado o que chamam de “ambiente de seita”, em que qualquer crítica ao modelo de negócios é rechaçada com punições, bloqueio de pedidos e sanções contratuais. Muitos afirmam que entraram no negócio acreditando nas promessas de retorno financeiro e apoio constante, mas se viram presos a um sistema rígido, onde a autonomia é quase nula e a dependência da central é absoluta.



Além disso, a Cacau Show tem seu nome ligado, direta ou indiretamente, a casos de trabalho análogo à escravidão em sua cadeia de produção. Diversas denúncias apontam que o cacau utilizado por grandes empresas do setor — incluindo fornecedoras da Cacau Show — vem de plantações onde crianças e adultos são submetidos a jornadas exaustivas, sem condições mínimas de segurança, alimentação ou remuneração justa.



O problema é estrutural: o Brasil, sendo um dos principais produtores de cacau do mundo, ainda convive com práticas herdadas da escravidão colonial em diversas lavouras no sul da Bahia e no Pará. Trabalhadores vivem em barracos de lona, sem água potável, sem banheiro, submetidos a cobranças abusivas por alimentação e equipamentos. Em muitos casos, crianças são forçadas a trabalhar em meio a venenos agrícolas e facões, sem qualquer proteção.



E enquanto isso acontece longe dos holofotes, a imagem institucional da Cacau Show segue sendo cuidadosamente construída com campanhas emocionantes e programas de fidelização. A empresa investe pesado em marketing e comunicação, promove eventos com celebridades e reforça a figura do seu fundador como um “exemplo de superação”. Mas o contraste entre o discurso e a prática é gritante.



Não se trata apenas de denunciar um ou outro abuso isolado. A Cacau Show representa um modelo de negócio que lucra com a exploração e impõe uma lógica empresarial desumana. Uma lógica que transforma trabalhadores em peças descartáveis, franqueados em reféns e fornecedores em elos invisíveis de uma cadeia de sofrimento.


Enquanto muitos consumidores continuam comprando chocolates embalados em frases de amor, afeto e gratidão, é preciso lembrar que esse doce pode ter um gosto amargo para quem o produz. E é por isso que sindicatos, movimentos sociais e toda a sociedade precisam se mobilizar.



A FITIASP, ao lado de outras entidades comprometidas com a justiça social, repudia veementemente qualquer forma de abuso, coerção, escravidão contemporânea e práticas empresariais que violem a dignidade humana. Vamos seguir denunciando, pressionando e exigindo que empresas como a Cacau Show sejam responsabilizadas por tudo aquilo que escondem atrás das vitrines.



O crescimento econômico não pode ser feito às custas da saúde mental, do sofrimento e da exploração de trabalhadores. Chega de naturalizar abusos em nome da produtividade. É hora de colocar as pessoas no centro — e isso começa com verdade, dignidade e respeito.



Fonte: FITIASP




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