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Do tigrinho ao INSS: Bets fazem auxílios-doença por vício em jogos dispararem no Brasil


03/07/2025



A epidemia das bets já faz filhos botarem limite de tela nos pais no Brasil. Thiago, de 9 anos, levou a sério essa responsabilidade. Fingia que ia para o quarto brincar e, sorrateiramente, aparecia de volta na sala, para checar se Roberto, 39 anos, não havia pegado o celular escondido.

 

O pai de Thiago perdeu tudo em apostas como o “tigrinho”, inclusive a carreira como gerente de contas em um banco público em São Paulo. Se em casa a força-tarefa para deixá-lo longe das bets deu certo, no emprego ele sempre estava a cliques de conseguir dinheiro para financiar o vício. Roberto tem compulsão por jogos de azar, uma doença que o fez ser afastado pelo INSS, já que não conseguia mais trabalhar.

 

Dados inéditos obtidos pelo Intercept Brasil indicam que, entre junho de 2023 e abril de 2025, quando as bets começaram a ganhar mais tração no país, o número de auxílio-doença concedidos mensalmente por ludopatia aumentou mais de 2.300% — foram 276 benefícios concedidos no total no período.

 

Os dados revelam um aumento consistente na concessão de auxílios e indicam uma tendência de que esta seja só a ponta do iceberg. Isso porque, além de a possibilidade de obtenção do auxílio ser desconhecida – mesmo em grupos de apoio –, o diagnóstico da doença costuma ser tardio e o reconhecimento de doenças mentais pelo INSS é historicamente deficiente.

 

Roberto faz parte do perfil mais comum de apostador que passa a receber auxílio. Segundo dados abertos do INSS, dois em cada três beneficiários são homens – 73% do total concedido. Cerca de oito em cada 10 têm idade entre 18 e 39 anos, o que reforça o efeito direto do vício em jogos sobre trabalhadores em idade produtiva. 

 

Embora a maior parte dos registros do INSS não informe sobre vínculos familiares, em 7% dos casos o auxílio foi concedido a quem declarou ter ao menos um dependente — ou seja, pais ou mães de família –, o que amplia o impacto social do transtorno. Os dados ainda mostram que a maior parte dos que receberam auxílio estavam empregados.

 

O custo previdenciário da chegada das bets ao país é, até o momento, um fator desconsiderado no debate público sobre a regulamentação do setor. Na última quarta-feira, 11, uma medida provisória assinada pelo presidente Lula aumentou a tributação federal da receita líquida das bets de 12% para 18%. 

 

O aumento na taxação é destinado à “seguridade social, para ações na área da saúde”, mas, por enquanto, não há regulamentação de como se dará o uso deste dinheiro. No esporte, por exemplo, isso não ocorreu até hoje, um ano e meio depois da aprovação da lei das bets.

 

A medida tem validade de 90 dias e, para virar lei, precisa ser aprovada pelo Congresso, onde há forte resistência. A federação PP e União Brasil, maior da Câmara, já fechou questão contra ela, o que praticamente impede sua aprovação. A nova tributação de 18% só começaria a valer em outubro.

 

Enquanto isso, um ano e meio depois de ser sancionada a lei que destina 1% da arrecadação líquida das bets ao Ministério da Saúde, “para medidas de prevenção, controle e mitigação de danos sociais advindos da prática de jogos, nas áreas de saúde”, a pasta ainda não tem nem anunciou qualquer medida. Estimativas indicam que a verba para isso pode chegar na casa de R$ 60 milhões.

 

Um grupo de trabalho interministerial intitulado “Saúde Mental e de Prevenção e Redução de Danos do Jogo Problemático” foi criado em dezembro, mas só teve a primeira reunião em março. Ele reúne os ministérios da Saúde, Fazenda e Esporte, além da Secretaria da Comunicação, mas não inclui as pastas de Trabalho e Previdência.

 

Questionamos o motivo de tanta demora, mas o Ministério da Saúde disse apenas que a arrecadação prevista na regulamentação das bets, aprovada em 2024, só começou a ser repassada à pasta em fevereiro de 2025 e que “a definição das ações está em andamento” no grupo de trabalho.

 

Fonte: Intercept via Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo




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