14/10/2025
Recentemente, o Brasil apresenta bons indicadores econômicos e em relação ao mercado de trabalho: a taxa de desemprego chegou a 5,6% — a menor da série histórica iniciada em 2012 — e mais de 102 milhões de pessoas estão ocupadas, segundo os dados do IBGE, referentes ao trimestre encerrado em agosto de 2025.
Esses números podem sugerir um cenário de estabilidade, mas, na prática, a estrutura do sistema tributário revela o contrário: quem tem menos paga proporcionalmente mais impostos do que quem tem mais. A desigualdade tributária continua impactando a vida da maioria dos brasileiros e das brasileiras.
Grande parte da arrecadação no país vem de tributos sobre o consumo. Dados da Receita Federal, de 2025, mostram que metade de tudo que é recolhido tem origem em bens e serviços, como ICMS, IPI, PIS e Cofins. Essas alíquotas atingem igualmente todos os consumidores, independentemente da renda. Assim, uma pessoa que recebe apenas um salário mínimo (R$ 1.518,00) pode desembolsar, em média, R$ 273,24 por mês somente em ICMS, imposto estadual que varia de 17% a 23% conforme a localidade.
O peso dessa desigualdade fica evidente em exemplos práticos. Uma diarista que recebe R$ 2.200 e compra um celular de R$ 1.000 sente o valor pesar sete vezes mais no orçamento do que um gerente que ganha R$ 16.500 e adquire o mesmo aparelho. Enquanto isso, impostos sobre patrimônio, como IPTU, IPVA e ITR, representam menos de 2% da arrecadação, em contraste com os 6,65% do PIB oriundos de contribuições sociais.
O estudo Retrato da Desigualdade e dos Tributos Pagos no Brasil (2025) reforça essa disparidade: 1% da população mais rica, com renda anual de R$ 5,5 milhões, concentra 27,4% da renda nacional, mas paga alíquotas médias de 20,6%. Já o trabalhador comum, que vive do salário, arca com 42,5%.
Mesmo após a retomada econômica pós-pandemia, 63% dos(as) trabalhadores(as) seguem enfrentando problemas financeiros, e metade relata impactos emocionais associados à instabilidade econômica, segundo a pesquisa Saúde & Gestão, da fintech Onze.
Juros altos: freio para quem produz
A esse quadro somam-se juros elevados e crédito caro, que comprometem a renda das famílias e desestimulam investimentos produtivos, reduzindo o crescimento da economia.
A taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, é definida pelo Banco Central (Bacen) por meio do Comitê de Política Monetária (Copom). Ela funciona como referência, influenciando diretamente empréstimos, financiamentos e o retorno de aplicações financeiras.
Com a Selic em 15%, o Brasil ocupa a posição de segundo país com a maior taxa real de juros do mundo. Portanto, embora os indicadores sejam positivos, eles não refletem a realidade de quem sustenta o país com seu trabalho. O modelo atual de arrecadação e a política de juros elevados aprofundam desigualdades e impedem que conquistas econômicas se transformem em bem-estar real. Um sistema mais justo, baseado em equidade, é fundamental para que a riqueza produzida seja distribuída de forma mais equilibrada.
Fonte: Siemaco-Guarulhos
UGT - União Geral dos Trabalhadores