11/08/2022
Com alta no crédito e subida dos juros, instituições
faturaram mais graças ao retorno das atividades econômicas após a pandemia da
covid-19
Os quatro maiores bancos listados do Brasil encerraram o
segundo trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 26,6 bilhões, alta de 20,5%
em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento feito
pelo Broadcast. O resultado, no primeiro semestre, foi de R$ 51,406 bilhões,
17,2% maior que o do mesmo intervalo do ano passado.
Os números do trimestre foram puxados pelo Banco do Brasil,
que teve um salto de 54,8% no resultado, para R$ 7,803 bilhões, e pelo Itaú
Unibanco, que no segundo trimestre lucrou 17,4% a mais que no ano passado, ou
R$ 7,679 bilhões. O Bradesco teve ganhos 11,4% maiores, de R$ 7,041 bilhões. O
Santander Brasil, por sua vez, teve lucro 2,1% menor, de R$ 4,084 bilhões.
Guardadas as diferenças de composição de carteira de
crédito, os resultados dos bancos refletiram um crescimento de receitas
suficiente para compensar o maior custo de crédito. As instituições faturaram
mais graças ao retorno das atividades econômicas após a pandemia da covid-19,
que ampliou os índices de emprego da população e abriu espaço para concessões
de crédito em linhas mais arriscadas.
Os cartões de crédito são um exemplo. No Itaú, líder de
mercado, a carteira cresceu 43,1%. O produto aparece tanto nas receitas com
serviços dos bancos, que arrecadam com anuidades e tarifas de intercâmbio,
quanto na carteira de crédito. Nesta última, é um importante indicativo do apetite
do consumidor, dado que é utilizado para compras.
Neste trimestre, o desempenho dos cartões também sinaliza
outro fenômeno: a inflação, que leva o consumidor a desembolsar mais nas
compras. “Algumas carteiras são movidas por inflação. Em cartões, boa parte do
crescimento é pela inflação”, disse o presidente do Itaú, Milton Maluhy, em
coletiva de imprensa.
O Itaú elevou as projeções para a carteira de crédito neste
ano, e agora espera um crescimento de até 21% no Brasil. Maluhy afirmou que boa
parte dessa mudança veio do efeito da inflação sobre os saldos. O BB também
elevou a expectativa, para crescimento de até 16%, e o mercado deve buscar, na
teleconferência, mais detalhes sobre o ajuste na projeção.
Os bancos esperam, porém, que o crédito desacelere até o
final do ano. Além da base comparativa mais alta do segundo semestre, as
condições econômicas desafiadoras e o próprio período eleitoral devem afetar os
números.
“Há uma cautela natural, porque as carteiras que mais
crescem são as que têm maior risco, como cartão de crédito, crédito pessoal”,
afirmou o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior. Ele ressaltou que o
crédito de longo prazo, o que inclui os financiamentos imobiliário e a
investimentos do setor produtivo, dificilmente acelerará neste ano. “Com 14% de
juros, tomar crédito de longo prazo é mais difícil.”
Carrego para 2023
Analistas de mercado esperam que o crescimento das margens
dos bancos neste ano, aliado a um aumento da eficiência com a maior
participação do atendimento digital, gere um efeito carrego que ajudará a
manter os lucros em patamares robustos no ano que vem. No crédito, o ritmo deve
ser mais lento, e os bancos estão ajustando as concessões.
Lazari, do Bradesco, disse que neste momento, não há a
necessidade de restringir mais a concessão de crédito. O banco acredita que o ciclo
de alta da Selic se encerrou (ou quase isso), e que o ano que vem deve trazer
algum alívio em indicadores como emprego e renda da população. A instituição
está de olho, porém, na volatilidade que os próximos meses podem gerar. “Isso é
algo que temos que pilotar, ficar de olho todo dia. Não tem outro jeito”,
afirmou.
Maluhy, do Itaú, disse que há três fatores que geram cautela
para 2023. O primeiro é o fato de que os bancos centrais dos Estados Unidos e
da Europa estarão em pleno ciclo de aperto monetário, condição que tende a
tirar dinheiro de países emergentes. O segundo é o efeito da própria política
monetária contracionista no Brasil. O terceiro, e não menos importante, são as
decisões do governo que tomar posse em janeiro, seja ele qual for. “Entender a
política fiscal será importante para definir os juros”, afirmou. O Itaú, de
acordo com ele, mantém o pé no freio em determinadas linhas de crédito, após
perceber que os riscos aumentaram.
Fonte e Foto: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores