UGT UGT

Filiado à:


Filiado Filiado 2

Notícias

Ensino particular perde 1 milhão de alunos


29/02/2016

O reflexo da crise também é percebido na educação. As escolas particulares do País calculam ter perdido um milhão de alunos, desde o ano passado, por conta da retração econômica. De acordo com a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen), a rede privada perdeu 12% dos mais de 9 milhões de alunos que tinha em 2014, segundo o censo escolar. 

 

Já um levantamento da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo apontou que, apenas no ano passado, as redes estadual e municipais receberam 200 mil alunos que migraram das escolas particulares. 

 

Para Roberto Geraldo Dornas, presidente da Confenen, apesar de já terem sentido os efeitos da crise no ano passado, as famílias teriam feito outros cortes no orçamento doméstico antes de decidirem pela troca de escola. “Quem coloca o filho na particular vê esse gasto como prioridade, um investimento. Por isso, tirar o filho da escola é a última alternativa”.

 

Foi o que aconteceu com a professora Pérola do Amaral, de 41 anos, que estava com dificuldade para pagar a mensalidade das duas filhas, de 7 e 11 anos de idade, desde o segundo semestre do ano passado. Em janeiro, o marido perdeu o emprego e a família soube de imediato o que era preciso fazer: transferir as meninas para a rede pública de ensino. 

 

“A gente gastava mais de R$ 1 mil por mês de mensalidade e ainda tinha despesa com material, uniforme, transporte e alimentação. No ano passado fizemos de tudo para mantê-las na escola, mas não deu para segurar”, disse a mãe. O marido conseguiu um novo emprego, mas com salário menor, por isso, voltar as meninas para rede privada ainda não é uma opção. 

 

De acordo com Dornas, no ano passado, a Confenen chegou a estimar que a rede privada poderia perder até 20% dos alunos, mas, segundo ele, as empresas fizeram um esforço adicional para negociar alternativas com as famílias. “As escolas sabiam que seria um ano difícil. A inflação está muito alta, houve aumento de luz, água, internet e seria impossível não repassar para as mensalidades.” 

 

Mas nem sempre é assim. Desempregado desde agosto, o metalúrgico Sidnei Aparecido da Silva, de 36 anos, tentou negociar um desconto com a escola em que a filha de 8 anos estudava. “Já não tinha mais onde cortar no orçamento de casa. Troquei o carro por um mais barato, cortei passeios, não temos luxo. Sempre paguei a mensalidade em dia, mas a escola não quis nem negociar e não tivemos mais condições de pagar.”

 

A decoradora Ana Paula Barone, de 35 anos, também tentou desconto na mensalidade antes de recorrer à escola pública para os filhos mais novos, de 7 e 8 anos. Sem sucesso, eles foram estudar na escola estadual Blanca Zwicker Simões, na zona leste. “É uma escola modelo, mas, como só vai até o 5º ano, matriculamos apenas os menores. O mais velho continua na particular”. 

 

A crise criou um efeito cascata nas operadoras de saúde. Empresas começaram a dispensar funcionários, que deixaram de ter o benefício do plano de saúde e, assim, as operadoras perderam 13,7 mil beneficiários por mês entre setembro de 2014 e setembro de 2015, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No período, o total de beneficiários caiu de 50,4 milhões para cerca de 50,3 milhões.

 

Durante oito anos, a assistente de relacionamento com o cliente Elieth Alves Nonaka, de 42 anos, trabalhou em uma operadora de saúde e teve direito ao plano. Mas, em setembro do ano passado, ela entrou na lista dos 3,2 mil funcionários da Unimed Paulistana atingidos em cheio pela crise na empresa. Elieth foi demitida e perdeu o benefício. “Tenho Lesão por Esforço Repetitivo e rosácea no rosto. Se eu não conseguir emprego, vou usar o SUS”, conta. A Unimed Paulistana informou que, com a determinação da liquidação da operadora feita pela ANS, tanto usuários quanto funcionários tiveram como opção fazer a portabilidade para outros planos.

 

Diretor da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Pedro Ramos diz que o setor vinha registrando alta nos últimos anos. “É a primeira vez que tem uma queda acentuada. Quando fecha uma vaga de emprego, perdemos de dois a quatro beneficiários.” Consultado, o Ministério da Saúde informou que “os atendimentos realizados são crescentes, mas não é possível relacionar isso a desistência de usuários em possuir planos de saúde.”

 

As operadoras, entretanto, estão reagindo. Segundo Luciana Silveira, diretora executiva da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios, os empreendimentos estão trabalhando para reduzir custos, com campanhas de prevenção de doenças, e coibindo fraudes. “Há um movimento para aquisição de planos mais básicos.”

 

O efeito dominó do aumento do desemprego e da inflação apareceu no calote do pagamento de serviços básicos, como as contas de luz, água e de serviços de comunicação. A costureira Angela Rosa Alcon Velasques, de 56 anos, natural de La Paz, na Bolívia, e que há dez anos vive no Brasil, por exemplo, deixou de pagar a conta de luz porque perdeu o emprego. “Estou devendo seis meses de luz, mais de R$ 1,6 mil”, contou Angela, que tem quatro filhos. “Devo também o telefone fixo, que foi cortado.”

 

Angela usava uma máquina de costura elétrica para trabalhar em casa e ficou inadimplente na conta de energia e no telefone porque perdeu o trabalho. “Costurava para um patrão brasileiro. Ele me demitiu, não tenho mais costura.”

 

A saída encontrada por Angela foi deixar o imóvel alugado. Agora ela tenta uma renegociação da pendência com a Eletropaulo. “Mudei para um barraco”, disse a costureira, que gastava R$ 1,1 mil de aluguel. Pela nova moradia, não vai pagar nada. Enquanto a situação não melhorar, a costureira planeja fazer bicos e usar as poucas reservas que tem para viver. 

 

A auxiliar administrativa Adriana Carla Mendonça, de 40 anos, casada e com cinco filhos, é outra consumidora que ficou inadimplente nos serviços básicos. No seu caso o motivo do calote não foi desemprego, mas o aperto no orçamento em razão do aumento da inflação.

 

“Tenho três contas de luz atrasadas que somam um pouco mais de R$ 1 mil”, disse. Com uma renda familiar de cerca de R$ 4 mil, Adriana chegou a ter a luz cortada por falta de pagamento. Segundo ela, o valor da conta deu um salto. “Eu pagava R$ 150 e subiu para R$ 500.” No ano passado, a energia elétrica aumentou cerca 50%. Adriana pagou a taxa de R$ 45 para religar a luz e agora tenta um parcelamento em seis vezes da dívida pendente com a concessionária de energia. “Não sei se vou conseguir pagar, mas sem luz não dá para ficar.”

 

Tanto Angela quanto Adriana engrossam as estatísticas do calote das contas básicas que desde o ano passado não para de crescer. Em janeiro deste ano, o grande destaque dos índices de inadimplência apurados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) foram justamente as contas de serviços básicos que são prestados.

 

“Não é só banco e loja que estão deixando de ter o seu dinheiro de volta”, afirmou a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Em janeiro, o número de contas inadimplentes de água e luz aumentou 17,01% na região Sul e 13,03% no Centro-Oeste em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto a inadimplência média (que inclui também pendências com comércio, bancos e serviços de comunicação) cresceu cerca de 6% no mesmo período.

 

Já nas regiões Norte e Nordeste, os maiores avanços do calote em janeiro na comparação anual foram registrados em serviços de comunicação. No Norte, foi de 9,89%, ante uma inadimplência média de 6,53% no período, e, no Nordeste, de 12,39%, enquanto o calote médio da região aumentou 8,43%. A região Sudeste está fora das estatísticas de inadimplência por causa das mudanças na lei de negativação vigente no Estado de São Paulo, o que pode distorcer a base de comparação.

 

Fonte: Estadão


Categorizado em: Geral,


logo

UGT - União Geral dos Trabalhadores


Rua Formosa, 367 - 4º andar - Centro - São Paulo/SP - 01049-911 - Tel.: (11) 2111-7300
© 2023 Todos os direitos reservados.