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Trabalho portátil: a jornada fora do escritório


28/04/2016

O escritório fica embaixo de uma mangueira. Próxima à porta, uma rede anuncia a separação amigável entre o ambiente de trabalho e a área de descanso. Na sala construída com tijolos de demolição de uma antiga igreja, o jornalista e empresário Marcos Rogatto comanda uma produtora de vídeo que funciona quase 100% de maneira remota. “O escritório existe porque precisamos de um ambiente para trabalhar e organizar tudo, mas ficamos apenas eu e mais duas pessoas. Fora isso, só nossos computadores, livros e referências”, diz Rogatto, que mora em uma casa no mesmo terreno onde construiu seu home office. “Acredito que essa coisa do trabalho em casa seja uma tendência mesmo. Depende muito da área, mas nessa em que atuo funciona muito bem”, defende.

 

Rogatto é um dos tantos brasileiros que abandonaram o trabalho formal em empresas com endereço físico para levar o escritório para casa – ou para onde for preciso. Esse conceito de trabalho portátil e com menos cara de emprego tradicional vem ganhando adeptos, seja pela qualidade de vida ou pela necessidade de reduzir custos. No caso do jornalista e produtor, foi uma junção desses fatores. “Eu tinha um escritório em um centro empresarial, mas todos os dias pegava um trânsito absurdo para chegar em casa. Além disso, mal aproveitava a estrutura do lugar, já que meus clientes sempre precisavam que eu fosse até eles apresentar projetos, e não o contrário”, conta.

 

Naquela época, há mais ou menos um ano, a equipe da produtora já era reduzida, e Rogatto trabalhava com colaboradores freelancers. Após fazer um balanço do que valia mais a pena, decidiu construir um espaço em casa, no Jardim Xangrilá, e levar o trabalho para lá. “É a primeira vez que faço isso na carreira e estou adorando. Consigo almoçar em casa todos os dias depois de 25 anos, além de haver redução de custos. Hoje, o tamanho de uma ilha de edição é muito menor do que há alguns anos. Só precisamos ter os equipamentos suficientes e quem saiba operá-los”, diz.

 

Ele pontua que a flexibilidade do trabalho portátil e sem vínculos empregatícios é positiva no sentido de permitir a seleção de profissionais adequados a cada projeto. “Não é muito interessante para os colaboradores pelo fato de não ser CLT. Mas, em contrapartida, dependendo do projeto, a pessoa consegue um retorno financeiro muito mais interessante, que acaba compensando. Na verdade, muitos jovens não estão mais buscando a estabilidade da CLT a qualquer custo. São pessoas que já têm seus projetos pessoais e profissionais”, comenta. Com relação à inspiração no momento de produzir os vídeos, ele garante que não há comparação entre a sala fechada de um escritório e o espaço residencial. “É muito mais tranquilidade. Isso ajuda demais na concentração e em fazer as ideias darem certo”, opina.

 

Labuta em casa: os dois lados

 

Para a designer Yve Akemi, há uma desvantagem nítida em trabalhar em esquema home office. “Uma das maiores desvantagens, na minha opinião, é a falta de troca de experiências no dia a dia com profissionais da mesma área. Conviver com pessoas que, às vezes, passam por situações parecidas com a sua e o contato social diário me faziam muito bem quando eu trabalhava em empresa com endereço físico”, opina.

 

 

Apesar disso, ela garante que não troca o ritmo do trabalho em casa por nada e fala com entusiasmo sobre sua rotina. “Consigo me concentrar com muito mais facilidade do que se estivesse em um ambiente com muito barulho ou onde fosse interrompida o tempo todo. Pelo fato de ser autônoma, também tenho mais abertura para cuidar da minha agenda. Às vezes, quero participar de algum workshop, palestra ou curso na área durante o horário de expediente e, me organizando, consigo atender essas oportunidades sem problema”, frisa.

 

Yve conta que investiu em alguns itens e decorou o local de trabalho com a cara dela. “Acho isso superimportante quando se trabalha na área criativa. O ambiente ao seu redor é tudo”, atesta. A designer ainda defende que os benefícios com relação à qualidade de vida são os que mais pesam. “Só o fato de almoçar uma comidinha caseira e balanceada todos os dias já me deixa realizada. Além disso, futuramente penso em engravidar e já consigo imaginar minha rotina profissional sendo administrada e adaptada para ter o bebê próximo a mim”, diz.

 

Não é tudo, entretanto, que pode ser resolvido por trás das telas. Ainda. Rogatto, por exemplo, lembra que no momento do feedback do cliente o contato tem que ser o mais pessoal possível. “Eu faço questão de ir ao local apresentar o resultado para o cliente. Ele ainda quer um aperto de mão para fechar negócios”, frisa. Além disso, há que se ter disciplina. Caso contrário, não funciona nem que a pessoa tenha a maior das boas vontades.

 

Essa também é a opinião da empresária Meire Ferreira, que tem uma empresa focada em soluções tecnológicas. “Desde outubro de 2014, quando vários compromissos externos e questões pessoais demandavam minha atenção fora do ambiente da empresa, comecei a trabalhar de maneira mais remota. O volume e as responsabilidades de trabalho eram os mesmos a serem atendidos, independentemente da minha localização”, conta.

 

Na opinião de Meire, há trabalhos inviáveis na modalidade home office. “No meu último trabalho, como secretária executiva, eu dependia de materiais e documentos que ficam no ambiente da empresa empregadora. Então, não daria”, lembra. “Mas, hoje, com a função que exerço, isso é possível. A convergência do mundo digital, os dispositivos móveis e a comunicação em tempo real fazem do home office uma opção até mais produtiva para mim. Além do tempo de locomoção que eu não perco, em geral, as ferramentas estão ao alcance das minhas mãos. Com telefone, internet e computador, dependendo do tipo de trabalho, é possível resolver quase tudo”, afirma. “A família também respeita meu horário de trabalho. Minha netinha, de 6 anos, já ensina o irmãozinho mais novo, dizendo: ‘Espera! A vovó agora está trabalhando, depois ela brinca com a gente’”, observa.

 

No lugar da crise, criatividade

 

Uma proposta itinerante de trabalho foi a escolha da florista Ana Lúcia Demasi, que passou 24 anos no comando de uma floricultura em Campinas, com endereço físico e um tanto de funcionários. Após alguns insights, ela começou a se debruçar sobre o novo cenário do consumo e chegou à conclusão de que a relação das pessoas com a prática estava mudando. “Nós tínhamos um mundo de opções em flores, mas alguns varejões já estavam vendendo também. Então, muita gente passou a comprar nesses lugares por causa do custo. As despesas da loja física continuavam ali, só que não éramos mais os únicos a oferecer aquele tipo de mercadoria”, conta.

 

Foi aí que, em uma viagem para a casa da irmã, em São Paulo, ela teve uma ideia. “Se sou especialista em um assunto, mas sou um pequeno empresário, por que não focar nessa minha especialidade, no que tenho de diferente? Pensei nisso enquanto arrumava flores no apartamento da minha irmã e pronto. Estava tudo ali. Eu havia encontrado um nicho de mercado, que era oferecer um trabalho mais pessoal ao cliente”, define.

 

Foi nessa toada que Ana decidiu partir para a nova empreitada: entregar flores semanalmente aos clientes, especialmente os corporativos. E, mais do que isso, prestar consultoria, comandando o layout e a arrumação do ambiente para valorização das plantas. Tudo isso, vale dizer, a bordo de uma charmosa Kombi e na companhia de seu ex-funcionário de tempos Valdenir Rodrigues.

 

Para ela, a saída do local de trabalho formal foi positiva por estreitar laços com os consumidores e garantir mais flexibilidade à rotina. “O que perdemos no balcão ganhamos no contato com o cliente”, argumenta. Ana diz que ainda tem que se policiar quando o assunto é cuidar dos assuntos burocráticos, ainda mais sem a rotina fixa do escritório, mas acredita que vai encaixando tudo aos poucos. “A previsibilidade dos lucros aumentou, apesar de a receita ter caído agora no começo. Nosso resultado operacional já está positivo, o que mostra que é possível, sim, fazer isso dar certo”, comenta.

 

Fonte: Correio Popular


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