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Escassez já afeta saúde de venezuelanos


01/09/2015

Lutando contra um câncer de mama há um ano e meio, Dania Garcia, 50, precisa tomar diariamente um comprimido de Letrozol 2,5 mg.

 

Há três meses, o remédio sumiu das prateleiras de Guarico, Estado no centro-norte da Venezuela onde a vendedora mora. Para tentar consegui-lo, ela precisa viajar cinco horas de ônibus e procurá-lo em Caracas.

 

Na rede pública, Dania buscou o remédio por semanas. Depois achou uma caixa em uma loja privada, a 2.500 bolívares, um terço do salário mínimo que recebe.

 

Na última sexta (28), ela finalmente conseguiu 30 comprimidos de Letrozol numa farmácia estatal a custo zero. Mas sua viagem e a da irmã que a acompanhou consumiram todo seu salário.

 

"Em um mês terei de fazer tudo isso de novo", diz.

 

A falta de remédios é uma das facetas mais dramáticas do desabastecimento na Venezuela. Segundo a Federação Farmacêutica Venezuelana (Fefarven), a escassez atinge sete de cada dez medicamentos vendidos no país.

 

"De cremes para queimadura a remédios para o sistema nervoso, passando por tratamentos cardiológicos e anticoagulantes, quase tudo falta", diz Freddy Ceballos, presidente da Fefarven.

 

Um dos casos mais urgentes é o dos anticoncepcionais. Ceballos prevê aumento na taxa de gravidez adolescente num país que já é recordista sul-americano nesse índice.

 

Em julho, um pico de escassez de Prednisona e Cellcept, drogas que impedem o organismo de rejeitar órgãos transplantados, levou venezuelanos a recorrerem a remédios para cachorros e gatos. Os remédios reaparecem, mas sem a garantia de que o abastecimento se normalize.

 

"Pacientes transplantados dependem de um coquetel de remédios que só faz efeito se todos forem tomados com regularidade. O problema é que quando um remédio ressurge, outro some", diz Francisco Valencia, ativista pelos direitos dos transplantados.

 

HOSPITAIS

 

A saúde pública também é afetada pela escassez de peças de reposição em equipamentos hospitalares.

 

Médicos ouvidos pela Folha dizem ser difícil mesurar o total de mortes causadas pela falta de drogas e insumos. Mas todos concordam que a medicação irregular reduz a chance de sobreviver.

 

"A escassez me obriga a mudar a medicações. Mas há remédios insubstituíveis", diz o oncologista Paulo Pereira. Segundo ele, o paciente perde tanto tempo buscando remédios que um tratamento de seis meses dura oito.

 

Um conhecido cientista político, que pediu para não ser identificado, passou três semanas à procura de remédios para seu pai, que tem câncer.

 

"Nem com todo o dinheiro possível consegui comprar. Só achei graças a uma campanha em redes sociais", diz.

 

A situação só não é pior, dizem médicos e pacientes, por causa do apoio de empresas privadas, fundações e doações individuais.

 

A escassez de remédios e outros produtos, sobretudo alimentos e artigos de higiene, é causada por vários fatores. Um deles é a fraca produção industrial num país acostumado a importar quase tudo que consome.

 

Na última década, o aparato industrial ficou ainda menor depois que o governo de esquerda implementou políticas como controle de preços e de câmbio e expropriações, inibindo a já parca produção.

 

A situação piorou em 2014, quando o preço do petróleo, sustentáculo da economia local, desabou. Com menos dólares em caixa, a Venezuela não consegue atender sua necessidade de importação.

 

Para a federação farmacêutica, o quadro só mudará quando o governo parar de enviar petróleo subsidiado a países aliados e privilegiar o desenvolvimento da indústria local. "O governo recentemente importou um lote de remédios cubanos. Como confiar num produto em que a etiqueta diz 'proteger da luz', mas está em frasco transparente?", indaga Ceballos.

 

O governo não responde aos contatos da Folha. À agência de notícias Reuters, o presidente do Instituto Venezuelano de Seguros Sociais, Carlos Rotondaro, negou a escassez de remédios, mas admitiu "falhas pontuais" no abastecimento.

 

Médicos preveem que o fechamento do principal posto de fronteira com a Colômbia agrave o problema.

 

Fonte: Folha de S.Paulo


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