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Má gestão, acidentes e dívida de mais de R$ 400 mi abalaram parque Hopi Hari


27/06/2017

A história do Hopi Hari, em Vinhedo (SP), é marcada por dívidas, erros de gestão e acidentes nos brinquedos. A empresa passou por mais de três mudanças de controlador nos últimos dez anos, e nenhum conseguiu reestruturar o negócio para dar lucro.

 

O parque foi inaugurado em 1999, com participação da GP Investimentos e dos fundos de pensão Funcef, Petros, Sistel e Previ. O alto investimento inicial em moeda estrangeira, de US$ 200 milhões, fez com que a empresa desse seu primeiro pontapé já prestes a ser aleijada pela alta do dólar que viria nos próximos anos.

 

Nesse período, a proposta de o Hopi Hari ser um país imaginário, com uma língua própria inventada, fez sucesso. Em 2010, era o parque mais visitado do país, declarando quase 2 milhões de visitantes por ano, na frente do Beto Carrero, em Santa Catarina, e do Playcenter, em São Paulo.

 

A empresa, porém, sempre esteve endividada. Só começou a dar lucro em 2011, dois anos depois de a GP vender sua parte para acionistas da Íntegra, consultoria especializada em reestruturações.

 

Logo depois, em 2012, sofreu seu maior revés quando Gabriela Nichimura, 14, morreu após cair da "Torre Eiffel", um elevador de 69,5 metros. O parque passou um mês fechado, perdeu público e amargou prejuízo de quase R$ 90 milhões no ano.

 

Não foi o primeiro acidente grave. Em 2007, Arthur Wolf, 15, morreu após passar mal em uma atração. Um ano depois, um esquiador norte-americano se acidentou em uma apresentação e ficou paraplégico. Para cada caso, um processo aumentava a dívida da empresa.

 

A gestão perdeu a chance de virar o negócio em 2012 e teve que apostar em soluções baratas, como o uso de personagens da Looney Tunes e a Hora do Horror, festa com fantasias à moda de Halloween. Houve leve alta nos frequentadores em 2013, mas o fôlego foi curto. Não havia capital para investir em atrações de grande porte.

 

Enquanto isso, acidentes não pararam de acontecer. Em maio de 2014, um visitante afirmou ter ficado paraplégico após andar na montanha-russa de madeira, a Montezum. No segundo semestre, o parque sofreu dois arrastões, crimes que deixaram seis feridos.

 

Nessa época, o principal nome por trás do parque era Luciano Corrêa, ex-GP. Em 2015, a ele se somou um novo sócio, Sérgio Loureiro Valente. Empresário do setor de rodeios que já foi candidato a vice-prefeito em Cachoeira Dourada (GO), Valente investiu R$ 20 milhões no parque.

 

Mas o goiano monopolizou as decisões do conselho, desagradou credores e saiu do negócio após quatro meses, brigado com Corrêa.

 

A falta de transparência financeira interna se tornou um problema, levando à renúncia do ex-diretor do parque, Cláudio Guimarães, ao cargo de membro no conselho de administração em junho de 2016.

 

Uma denúncia protocolada na CVM no mesmo mês acusa a empresa de ter ocultado uma ação de execução fiscal de R$ 156,6 milhões em tributos federais das demonstrações financeiras de 2015, ano em que a empresa teve prejuízo de R$ 60 milhões.

 

O processo a que se refere a denúncia corre na Justiça até hoje. Nele, a Fazenda Nacional cobra valores devidos por imposto de renda de pessoa jurídica. Fontes próximas ao parque afirmam que o risco de execução desses valores foi considerado baixo, e que, por isso, a informação não consta da declaração anual.

 

Enfrentando diversos pedidos de falência de credores, o Hopi Hari entrou com ação de recuperação judicial em setembro de 2016. Nesse período, o parque ficou fechado por mais de um mês e a Hora do Horror, que atraía boa parte dos visitantes, teve que ser cancelada duas vezes.

 

A companhia também perdeu uma montanha-russa de dez inversões, comprada em 2011 e entregue como garantia de um empréstimo, que nunca chegou a ser montada.

 

Em meio à turbulência, José Luiz Abdalla, herdeiro de um sócio do BCN, comprou o controle da empresa de Luciano Corrêa, assumindo 75% das ações por R$ 0,01 em dezembro de 2016.

 

Em maio deste ano, houve novamente um desentendimento entre sócios, e dessa vez foi Corrêa que abandonou o barco. Abdalla ficou com 99% das ações e a presidência.

 

Quando assumiu, o novo gestor anunciou que iria construir um complexo hoteleiro com 1,2 mil apartamentos, uma praia artificial e um centro de convenções, gerando mil empregos. Até hoje, ele está em busca do crédito para concretizar esse plano.

 

OS HABITARI

 

Os salários dos funcionários não são pagos regularmente desde o fim de 2015, assim como o FGTS não é repassado à Caixa Econômica Federal, afirma o Sindiversão (sindicato dos empregados em casas de diversões).

 

Em janeiro de 2016, alguns deles, chamados de "habitari" na língua do parque, fizeram greve alegando que a empresa tinha atrasado o 13° salário e cortado o convênio médico.

 

Mario Fabris, ex-funcionário do setor de comida ouvido pela Folha, afirma que, com a debandada dos fornecedores, a única maneira de alimentar os visitantes nos últimos anos era comprar pão e queijo no supermercado com dinheiro vivo.

 

Ele ficou sem receber salário integral por meses. "Depois de ficar com o condomínio atrasado e contas acumuladas, fui demitido", afirma Fabris, que trabalhou na companhia de 2012 a 2016. Atualmente, o parque tem 300 trabalhadores, que estão sem receber desde fevereiro.

 

Das dívidas da empresa, 1.058 são créditos trabalhistas, representando R$ 8 milhões. O parque também deve R$ 326 mil à Warner Bros pelos seus personagens e R$ 247 milhões ao BNDES, que já emprestou mais de uma vez à companhia desde 2009.

 

O processo de recuperação judicial lista, ao todo, R$ 404 milhões em dívidas, o que não inclui os débitos fiscais.

 

A CPFL Energia, à qual o parque deve mais de R$ 350 mil, cortou a luz do estabelecimento em 10 de abril deste ano. Por um mês, o local operou com geradores e sem seguro. Ao "Estado de S.Paulo", Abdalla afirmou que não há empresa especializada que faça seguros de parques.

 

No próprio Hopi Hari, porém, Mapfre e Yasuda Marítima já foram contratadas como seguradoras de responsabilidade civil. A última deixou de atender o parque, por inadimplência do contrato, em 30 de setembro de 2016.

 

SILIG!

 

Em fevereiro, a entidade patronal Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas) pediu explicações ao Hopi Hari sobre a situação dos brinquedos.

 

Cerca de 10 de 48 estavam abertos para os visitantes. Por não atenderem aos requisitos de segurança, muitos ostentavam uma placa pedindo "silig!" (atenção).

 

"Em vez de reagir de forma colaborativa, o parque partiu para uma resposta agressiva e sem sentido", afirma o presidente da entidade, Alain Baldacci, que também comanda o Wet'n Wild, vizinho e concorrente do Hopi Hari.

 

O parque de diversões está fechado desde 12 de maio. Em e-mail enviado à Folha quatro dias depois de fechar, José Luiz Abdalla afirmou que reportagens publicadas sobre o parque no "Estado de S.Paulo", no início de maio, foram um "massacre público" que o forçou a "pausar" o serviço.

 

"Parece haver um estranho interesse em interromper qualquer iniciativa desta nova gestão", diz o empresário. "Milhares de pessoas estão se manifestando através das redes sociais, onde não são afetados pela edição, como acontece em reportagens, demonstrando repúdio ao massacre contra o Hopi Hari."

 

A empresa teve o registro suspenso pela CVM em 24 de maio, devido à recorrente recusa em comunicar fatos relevantes ao mercado. A demonstração financeira de 2016 não foi divulgada.

 

No fim de maio, o Hopi Hari anunciou ter conseguido uma linha de crédito em um fundo chamado American Bank para reabrir na primeira quinzena de junho, mas não divulgou as condições no negócio.

 

Luciano Corrêa, José Luiz Abdalla e outros ex-sócios foram procurados pela Folha e não quiseram dar entrevista.

 

A assembleia de credores, a quem cabe aprovar o plano de recuperação judicial da empresa, está marcada para 18 de agosto e, em segunda convocação, 1º de setembro. 

 

Fonte: Folha de SP

 


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