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Somente políticas públicas sérias vão combater o preconceito racial no Brasil


14/11/2017

Que melhor momento que não este, quando se propõe uma reflexão sobre as dificuldades que os negros passam há séculos, para lembrar o quanto ainda precisa ser feito para que estes cidadãos vivam com dignidade e respeito? 

 

A esperança é que, a cada ano, o dia 20 de novembro venha a contribuir para uma mudança efetiva de comportamento e sentimento que muitos ainda nutrem em relação a esta parcela importante da população. 

 

Às vezes expresso de forma pública, noutras velada, o preconceito gera perdas pessoais incalculáveis e o olhar do Estado sobre esta questão demonstra que pior que o preconceito do indivíduo contra o outro é o preconceito institucionalizado pelo Estado. Com a falta de políticas públicas claras para combater este mal, vemos em números e também na prática o quanto a discriminação faz estragos.

 

Os negros recebem salários mais baixos. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população negra e parda tem mais dificuldade de conseguir emprego e, quando consegue, ganha salários mais baixos do que a população branca. A renda média real recebida pelas pessoas ocupadas no País foi estimada em R$ 2.043,00 no quarto trimestre de 2016. O rendimento dos brancos era de R$ 2.660,00 (acima da média nacional), enquanto o dos pardos ficou em apenas R$ 1.480,00 e o dos trabalhadores que se declaram pretos esteve em R$ 1.461,00.

 

Na área educacional não é diferente e as desigualdades são gritantes: em 2008, a probabilidade de um jovem branco, de 18 a 24 anos, frequentar uma instituição de ensino superior era 97,8% maior do que a de uma jovem negra da mesma faixa etária. 

 

Ganhando menos e com um nível educacional menor, é claro que a diferenciação negativa se estende para o plano da moradia. São maioria negra os moradores de favelas, invasões, bairros pobres e periferia, onde é real a falta de políticas públicas que garantam equipamentos urbanos e serviços públicos de boa qualidade. 

 

A somatória destas deficiências leva a um outro panorama ainda mais desumano. Os negros são as maiores vítimas de homicídio. Segundo informações levantadas no Mapa da Violência de 2011, enquanto o número de vítimas brancas na população brasileira diminuiu 22,3%, o de negros aumentou 20,2%. 

 

Os dados são mais dramáticos quando se consideram os jovens: o número de homicídios de jovens brancos caiu, no período, 30%, enquanto o de jovens negros cresceu 13%, o que significa que a brecha de mortalidade entre brancos e negros cresceu 43%. E é de conhecimento público o predomínio de negros entre a população carcerária. Os números demonstrados pelas pesquisas comprovam que é necessária a adoção de políticas públicas sérias para barrar o preconceito e desigualdade entre a população brasileira. 

 

Entendo que quando isso for levado a sério pelos nossos governantes, que foram eleitos para representar toda a população, seja ela branca, negra, amarela, parda, haveremos de viver num mundo mais justo e humano. 

 

Deixaremos, por exemplo, de conviver com casos de racismo explícito como aconteceu com a nossa Miss Brasil de 2017, a piauiense e estudante de administração Monalysa Alcântara. Depois de desbancar 26 adversárias no concurso de beleza, ela teve de conviver com comentários maldosos daqueles que não aprovaram a sua indicação. O pior e também o mais repicado nas redes sociais veio de uma usuária que afirmou que Monalysa tinha “cara de empregadinha”. 

 

Também deixaremos de conviver com o preconceito racial e os ataques machistas como o sofrido pela jornalista da Rede Globo, Maria Júlia Coutinho, a Maju, após a publicação, em 2015, de uma foto sua no Facebook da emissora. Maju afirmou que lida com preconceito racial “desde que se conhece por gente”. 

Tenham certeza de que não é só ela quem convive com a intolerância que atinge negros e outras minorias. Então, que todas as formas de rejeição e hostilidade, expostas de forma aberta ou velada, sejam exemplarmente combatidas. 

 

*Sofia Rodrigues do Nascimento é vice-presidente do Sinsaúde Campinas e Região e secretária adjunta para Assuntos da Diversidade Humana da União Geral dos Trabalhadores (UGT) 


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