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UGT Press 569: Reorganização das esquerdas


25/07/2017

ESQUERDA & DIREITA: neste espaço, abordamos a origem dos termos “esquerda e direita” (UGTpress 0532, de 29/11/2016), recordando as primeiras rotulações que surgiram após a Revolução Francesa: nas assembleias, do lado esquerdo, ficavam os radicais alinhados aos trabalhadores e, do direito, os mais moderados tendentes aos acordos e às composições. O fator ideológico original, com ligeiras modificações, se mantém em alguns países, com os termos evoluindo para “progressistas e conservadores”. Contudo, essa nitidez ideológica foi embaçando a partir do final do século 20, aprofundando neste início de século 21. Lembramos ainda Norberto Bobbio: ele afirma que, embora os dois espectros promovam reformas, a diferença principal seria que a esquerda busca promover a justiça social enquanto a direita trabalha pela liberdade individual.

 

DATAFOLHA: entre os dias 21 e 23 de junho, o instituto de pesquisas Datafolha fez uma pesquisa em que mostrou “maior tolerância da população com questões que envolvem igualdade, em comparação com 2014”. Supondo que igualdade seja uma preocupação das esquerdas, a manchete do jornal em 03/07, dia em que reportou a pesquisa, foi a seguinte: “Cresce apoio a ideias próximas à esquerda, aponta o Datafolha”. A pesquisa foi importante porque ouviu opiniões sobre assuntos diversos como porte de arma, pobreza, migração, criminalidade, pena de morte, drogas, homossexualidade, religião, sindicatos, adolescentes, governo, impostos, benefícios, empresas, leis trabalhistas e crescimento. Sem entrar no mérito das questões apresentadas aos entrevistados, algumas de notória ambiguidade, em geral a pesquisa confirma a tendência cíclica entre as duas posições, caso em que há uma espécie de revezamento entre as preferências majoritárias de uma e outra, sempre decorrentes da atuação de seus representantes no exercício da realpolitik.

 

EXEMPLO: Marco Rodrigo de Almeida, o jornalista responsável pela matéria, escreveu: “Cresceu o apoio da população a ideias identificadas com a esquerda do espectro político. Esse fato sobrepujou o avanço de algumas posições conservadoras, típicas da direita. O resultado líquido foi uma leve movimentação do perfil ideológico do brasileiro para a esquerda, retomando o quadro de equilíbrio entre os dois polos. Subiu, por exemplo, de 58% para 77% a parcela que acredita que a pobreza está relacionada à falta de oportunidades iguais para todos. Já a que crê que a pobreza é fruto da preguiça para trabalhar caiu de 37% para 21%” (Folha de São Paulo, 03/07). Já o professor Cláudio Couto, professor de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz sobre o mesmo tema: “As medidas de ajuste propostas após a queda de Dilma são muito duras e ainda não demonstraram efeitos nítidos para a população. Isso abalou a imagem da direita. E ficou comprovado que o PT não detinha o monopólio da corrupção” (idem, idem).

 

AÍ MORA O PROBLEMA: o professor Couto, da FGV, colocou o dedo na ferida. Com as dificuldades da esquerda no governo petista, houve imediata adesão, principalmente dos extratos da classe média, às teses da direita, incluindo aí o impeachment de Dilma Rousseff. Passado um ano desse imbróglio político nacional, nota-se que aqueles que assaltaram o poder, tidos como de direita, são iguais ou piores do que aqueles que saíram. E aí mora o problema, pois a população não sabe exatamente em quem acreditar. Além do mais, os que assumiram o Executivo, com o apoio de outros poderes, estão a devastar as legislações trabalhista e previdenciária, causando mais incertezas do que certezas. Michel Temer não tem legitimidade, mas atende aos imperativos da direita brasileira, a mais reacionária do Continente. Por isso, permanece.

 

RUY FAUSTO: diante de todas essas dificuldades evidentes e das modificações que estão sendo promovidas pela classe política, reconhecidamente fruto do poder econômico e do mau uso das instituições nacionais, será bom prestar atenção ao novo livro do professor emérito da Universidade de São Paulo, Ruy Fausto, lançado também no dia 3 de julho, “Caminhos da Esquerda”. Em entrevista a propósito do lançamento, ele afirmou: “Mesmo uma democracia deformada é um ponto de partida. Eu tenho algum medo da ruptura do processo democrático. Dizem que quem faz a crítica da corrupção é a direita – isso é um engano. Somos nós que temos o maior interesse em um Estado que funcione 100%. O que proponho é redefinir a esquerda. Se organizar o discurso e tiver clareza, a gente ganha setores importantes. Se tivermos a massa e contarmos que é uma beleza a Venezuela, Cuba, só atrapalhará” (Folha de São Paulo, 02/07). 




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