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UGT Press 170: Paradoxo Carioca


12/04/2010

PARADOXO CARIOCA: o Rio de Janeiro é uma das cidades mais injustas do mundo. Tem uma minoria rica, privilegiada, que vive à beira de praias paradisíacas e de regiões exuberantes. A maioria pobre, espremida em grotões de miséria, mora em casas improvisadas, dependuradas em morros e carente dos serviços básicos. Nesse palco de aberrações sociais convivem governos ineficientes, narcotraficantes e contraventores, que produzem altos índices de violência e corrupção. Nesses dias, dois fatos foram marcantes: chuvas torrenciais que provocaram enchentes, arriaram encostas e mataram centenas de pessoas
e uma pesquisa mundial, recente, que detectou o estado de espírito do carioca e constatou a existência de uma população feliz.

PESQUISA SOBRE FELICIDADE: a Rede de Televisão CNN fez ampla reportagem sobre o Rio de Janeiro, com direito à entrevista do prefeito Eduardo Paes, onde mostrou os contrastes, com prevalência dos principais pontos turísticos e de rostos sorridentes. Reportagem francamente favorável à cidade, o que, em termos de propaganda, foi positivo. O resultado da pesquisa revelou que o carioca é feliz, gosta de sua cidade e tem como patrimônio pessoal a alegria. Enfim, o Rio de Janeiro está entre as cidades mais felizes do mundo.

A TRAGÉDIA: a tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro era esperada e foi uma repetição de fatos semelhantes em épocas anteriores. A crescente ocupação dos morros, às barbas das autoridades políticas e de segurança, representa o desprezo ao bom senso e às mínimas regras de planejamento público. A população se espreme em curtos espaços e os barracos são construídos uns sobre os outros. Qualquer deslizamento de terra é fatal. A Revista Veja (nº 15-edição nº 2160) denunciou que a ocupação dos morros se faz em troca de votos, o que complica ainda mais a situação. É mais uma forma de corrupção.

CRIME E VIOLÊNCIA: a geografia do Rio de Janeiro favorece os enclaves criminosos, a repartição de territórios entre quadrilhas de traficantes, cria labirintos de difícil acesso e dificulta a prisão de contraventores. A expansão dos morros consolida esse espaço de delinquência. Apesar disso, a maioria da população é trabalhadora, luta com dificuldades e quer o melhor para os seus filhos. Nota-se nos rostos angustiados, nas faces molhadas pelas lágrimas da tragédia, que o povo quer uma vida digna, longe da insegurança e da criminalidade.

PRIORIDADES DUVIDOSAS: tipicamente uma cidade órfã de bons governos, que sentiu de forma dramática os efeitos da mudança da capital federal para Brasília, o Rio de Janeiro vive com prioridades duvidosas. Suas obras, em sua maioria, são megalomaníacas e visam grandes eventos, dinheiro que poderia servir para minimizar o sofrimento de seus cidadãos e dar-lhes melhores condições de habitação e emprego. Há orçamentos, ajudas pontuais, porém a corrupção desvia grande parte dos recursos e nada se faz de concreto para melhorar a vida das pessoas.

OLÍMPÍADA E COPA DO MUNDO: como o Rio de Janeiro será a principal sede da Copa de Mundo de Futebol em 2014 e sede das Olimpíadas de 2016, esse período (6 anos) deveria servir para reduzir as desigualdades, combater a violência, a contravenção e o narcotráfico. Ao mesmo tempo, investir em infraestrutura, serviços básicos, especialmente moradia e transporte. Com exceções pontuais (haverá obras específicas, custando o triplo do normal), urgentes e necessárias para a realização dos eventos, não há planejamento adequado, empenho real ou programa consequente de eliminação, por exemplo, das áreas de risco, aquelas sujeitas aos desastres naturais.

O PIOR: e pior do que a falta de planejamento, investimentos e execução adequada de programas de correção dos problemas, é a falta de vontade para implementá-los. Às vezes, essa falta de vontade se alia à falta de inteligência, mas essa, na área política, parece ser um atributo nacional.




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