José Agnaldo Pereira
Presidente do Sintrafucarb e Secretário de Finanças da UGT-PR
23/07/2025
O anúncio do governo Donald Trump de impor uma sobretaxa de 50% sobre as importações brasileiras a partir de agosto é mais do que um ataque comercial: é uma afronta direta ao trabalhador brasileiro. Em nome de uma falsa narrativa de \"discriminação\" contra os interesses dos Estados Unidos no Brasil, o ex-presidente norte-americano escancara um protecionismo desequilibrado que visa proteger lucros bilionários de seus conglomerados à custa de empregos aqui no Brasil.
É nosso dever, como sindicato que representa categorias diretamente ligadas à indústria, à produção e à exportação, denunciar esse movimento como injusto, desonesto e perigoso. O que Trump tenta esconder — e os dados revelam com clareza — é que o apetite das empresas norte-americanas no Brasil segue firme e crescente. O Brasil é o 13º país com mais subsidiárias de empresas dos Estados Unidos no mundo, com 4.686 companhias controladas por norte-americanos. Isso nos coloca à frente, por exemplo, do México — parceiro comercial estratégico dos EUA — que aparece apenas na 15ª posição, com 4.233 subsidiárias.
Essas empresas não se estabeleceram aqui à força. Elas vieram porque há mercado, há oportunidade e há lucro. Muitas dessas multinacionais operam com faturamento superior a US$ 25 milhões anuais, conforme dados do Escritório de Análise Econômica do próprio governo norte-americano. Só entre 2014 e 2022, o número de grandes subsidiárias americanas no Brasil saltou de 703 para 1.044. Um aumento de quase 50%, mesmo em meio à recessão, instabilidade política e mudanças de governo.
Se há dificuldades para empreender no Brasil — e há, como todo empresário ou trabalhador sabe — elas são enfrentadas diariamente por quem gera renda, emprego e sustento aqui dentro, sem benefício de isenções ou privilégios. Alegar que essas barreiras justificam um tarifaço de 50% é pura cortina de fumaça para encobrir a lógica de uma guerra comercial egoísta.
Mais preocupante ainda é ver setores da política nacional tratando essa crise como palco para disputas eleitorais, enquanto o que está em jogo são nossos empregos e nossa soberania econômica. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que chegou a culpar o presidente Lula pela medida de Trump, tenta se equilibrar no cenário eleitoral acenando para Washington como se fosse possível defender os interesses do Brasil servindo de ponte para quem nos pune injustamente.
Neste momento, mais do que nunca, o papel dos sindicatos é essencial. O Sintrafucarb se coloca na linha de frente da defesa dos empregos brasileiros. Vamos pressionar, cobrar e organizar nossa base para resistir a qualquer medida que ameace a indústria nacional, o setor produtivo e a segurança do trabalho formal.
O protecionismo dos Estados Unidos precisa ser combatido com solidariedade interna, políticas industriais firmes e valorização da nossa produção. Não aceitaremos calados que decisões tomadas em gabinetes estrangeiros prejudiquem milhares de trabalhadores que suam todos os dias para manter o Brasil de pé.
A nossa luta é pelo emprego, pela dignidade e pelo futuro.
UGT - União Geral dos Trabalhadores