07/11/2025
As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios da humanidade, afetando de maneira desigual povos e territórios. Entre os grupos mais impactados estão as mulheres, especialmente aquelas que vivem e trabalham em comunidades tradicionais, zonas rurais e periferias urbanas.
No entanto, mais do que vítimas, as mulheres têm se mostrado protagonistas da resistência e da resiliência climática, articulando saberes ancestrais, práticas sustentáveis e mobilização social em defesa da vida e do planeta.
Historicamente, as mulheres desempenham papéis centrais na gestão dos recursos naturais — seja no cuidado com a água, no cultivo dos alimentos, na preservação das florestas ou na transmissão de conhecimentos sobre o uso sustentável da terra. São protagonistas da mitigação, da adaptação e da preservação da vida.
Essa relação de cuidado e reciprocidade com a natureza tem sido fundamental diante do avanço de modelos de desenvolvimento predatórios, baseados na exploração intensiva dos recursos e na concentração de terras.
Assim, a luta das mulheres se insere em uma perspectiva ecofeminista, que reconhece a conexão entre a opressão das mulheres e a degradação ambiental.
Entre os exemplos mais potentes de resistência estão as mulheres indígenas, que defendem seus territórios como espaços de vida, espiritualidade e identidade. Essas mulheres têm denunciado os impactos do desmatamento e das mudanças climáticas sobre as comunidades tradicionais, ao mesmo tempo em que reafirmam a importância dos saberes ancestrais para a preservação da biodiversidade.
Nas aldeias, lideram o reflorestamento de nascentes, o cultivo de sementes nativas e o uso de plantas medicinais — práticas que unem tradição, autonomia e sustentabilidade.
As mulheres quilombolas também se destacam na defesa do território e na construção de alternativas agroecológicas. Em comunidades do Maranhão, Bahia e Minas Gerais, elas têm criado hortas comunitárias, bancos de sementes crioulas e redes de produção solidária, garantindo soberania alimentar e enfrentando o racismo ambiental.
Nessas experiências, cuidar da terra é também um ato político de resistência frente ao agronegócio e às políticas que desconsideram as especificidades dos modos de vida tradicionais.
Nas regiões ribeirinhas e extrativistas, as mulheres exercem papel fundamental no manejo sustentável dos recursos naturais. O extrativismo do açaí, da castanha e de óleos vegetais, realizado por cooperativas femininas, mostra que é possível gerar renda e dignidade sem destruir a floresta.
Com profundo conhecimento dos ciclos da natureza, essas mulheres adaptam suas práticas às variações climáticas, demonstrando resiliência e capacidade de inovação comunitária.
Nas cidades, as mulheres trabalhadoras e periféricas também constroem formas de resistência cotidiana. As catadoras de materiais recicláveis, por exemplo, desenvolvem um trabalho essencial para a redução de resíduos e emissões de carbono, ainda que muitas vezes invisibilizado.
Outras mulheres atuam em hortas urbanas, feiras agroecológicas e movimentos feministas por justiça climática, reafirmando que o cuidado com o meio ambiente é parte da luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
A secretária da Mulher da UGT, Maria Edna Ferreira de Medeiros, esteve presente e participou do 2º Encontro da Articulação Nacional Mulheres e Clima, um espaço de diálogo, proposição e mobilização rumo à COP30.
O evento fortalece a presença e o protagonismo das mulheres da UGT na construção de soluções para a crise climática. Esse protagonismo dialoga diretamente com as propostas das mulheres trabalhadoras e com o conceito de economia do cuidado, uma abordagem que coloca a vida no centro das decisões econômicas.
A economia do cuidado reconhece o valor do trabalho — muitas vezes invisível — de quem cuida: cuidar das pessoas, das comunidades, da natureza e do planeta.
Para Maria Edna, “esse trabalho, historicamente realizado por mulheres, é fundamental para a sustentação da vida e para a construção de uma sociedade mais equilibrada e solidária”.
As mulheres trabalhadoras, rurais e urbanas, reivindicam que o cuidado seja reconhecido como trabalho socialmente necessário e digno, e que as políticas públicas considerem a sustentabilidade da vida como eixo central do desenvolvimento.
A economia do cuidado propõe um novo paradigma, que valoriza a cooperação, a partilha e o bem-estar coletivo, em oposição à lógica produtivista que prioriza o lucro acima da vida.
Por isso mesmo, “onde se decide o futuro, as mulheres e as meninas precisam estar – com voz, autonomia e poder de decisão. Só há justiça climática com justiça de gênero” (Cartilha Mulheres e Clima, Ministério das Mulheres, 2025).
As experiências das mulheres nos territórios — indígenas, quilombolas, ribeirinhas, urbanas ou camponesas — são exemplos concretos dessa economia do cuidado em ação.
Quando preservam sementes, cuidam de nascentes, reciclam materiais, cultivam alimentos saudáveis ou se organizam em cooperativas solidárias, elas estão praticando um cuidado ampliado, que une o social e o ambiental. É o mesmo gesto que sustenta a vida no lar e que regenera a vida no planeta.
Assim, o cuidado deixa de ser apenas uma responsabilidade privada ou afetiva para se afirmar como ato político e prática de justiça climática.
As mulheres mostram que cuidar é também resistir, e que o enfrentamento à crise ambiental exige uma profunda transformação ética, econômica e cultural.
A resistência e a resiliência climática das mulheres revelam que não há enfrentamento possível à crise ambiental sem justiça social, transição justa e justiça de gênero.
Mais do que adaptar-se às mudanças do clima, essas mulheres estão transformando o modo de pensar e habitar o planeta. Elas nos ensinam que o futuro será sustentável se for também feminista, plural e solidário.
Afinal, quando uma mulher defende sua terra, ela defende o futuro; quando uma mulher planta, ela semeia resistência.
Informações:
Secretaria da Mulher da UGT — com Maria Edna Ferreira de Medeiros
maria.edna@sintetel.org.br
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